Nyrhio Rebastião começou a sua carreira de professor de Kizomba em Angola, onde dava aulas sobretudo a mulheres interessadas em aprender esta dança. “Já dava aulas de kizomba em Angola, não eram aulas grandes, eram apenas para pessoas que queriam aprender, sobretudo mulheres. Quando me mudo para a Europa, deparo-me com a realidade da kizomba na Europa através da minha irmã Eliza Sala que dá aulas de kizomba entre outros estilos de dança há mais de 20 anos na Holanda”, conta Nyrhio. 

Já em Lisboa, numa época em que estava desempregado, Nyrhio decidiu ocupar seu tempo fazendo algo sócio-cultural. E foi nesta época que conheceu Fernanda e decidiram então fazer um workshop de Kizomba no espaço AND Lab, em Cabo Ruivo. “Propus um workshop de kizomba orientado para mulheres com o nome de ‘Lady Ginga’, que é o nome dado às aulas de movimento de kizomba para mulheres. Depois alarguei às pessoas LGBTQIA+, tornando as aulas mais inclusivas”, explica Nyrhio. 

A Cuirzomba é uma adaptação da Kizomba tradicional que abraça a diversidade e inclusão, desafiando os papéis de género convencionais na dança. Nyrhio destaca a importância de criar um ambiente onde todos se sintam bem-vindes e seguros para se expressarem. “No início foi complexo, porque estamos a falar de uma dança que exige intimidade entre as pessoas, dada a sua proximidade física, e no contexto europeu, as convenções sociais de intimidade são diferentes dos africanos”, comenta. Com o tempo e a colaboração de toda equipa do AND Lab, Nyrhio desenvolveu um modelo de aula mais regular e estruturado. 

As aulas de Cuirzomba de Nyrhio têm sido um ponto de encontro crucial para a comunidade LGBTQIA+ de Lisboa. Os participantes destacam a criação de um espaço seguro onde podem ser eles mesmos, sem medo de julgamento ou discriminação. A dança não só promove a saúde física, mas também melhora o bem-estar emocional e fortalece o senso de comunidade. 

Nyrhio enfatiza a importância de ensinar os valores da Kizomba, como o respeito e a conexão emocional durante a dança. “Por ser uma dança íntima, eu falo muito sobre os valores da Kizomba e o respeito durante a dança. Foco-me muito no sentimento da música Kizomba e tento passar isso aos participantes da aula”, afirma. 

A vida activista de Nyrhio não começou em Lisboa. Em Luanda, ele foi convidado para participar num estudo relacionado com sero-prevalência para homens que têm sexo com homens (HSH), coordenado pela Ajuda de Desenvolvimento de Povo para Povo (ADPP) e pela Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID). Em 2011, Nyrhio esteve envolvido no projecto PSI Angola, focado na educação sexual para Homens que têm sexo com Homens, pessoas trans, trabalhadores do sexo e camionistas.  

Nyrhio é também é um dos fundadores da Associação IRIS, que lutou pela despenalização da homossexualidade no Código Penal Angolano, com o apoio da LAMBDA Moçambique, associação congénere de Maputo. Em Lisboa através de uma actividade organizada pela ILGA Portugal que conheceu o GAT (Grupo de Activistas em Tratamentos) para onde levou a sua vasta experiência de trabalho com comunidades LGBTQIA+ de Luanda.  

Nyrhio Rebastião utiliza a Kizomba para criar uma comunidade mais inclusiva e menos segregada, onde todos têm a oportunidade de expressar-se livremente. As suas aulas de Cuirzomba desafiam os papéis de género tradicionais e promovem um ambiente de respeito e conexão emocional. “Dança é ser feliz e não adianta ser feliz se você está sempre a seguir padrões muito estritos. A dança é para as pessoas experimentarem e para serem aquilo que quiserem seguindo o ritmo com respeito pelos corpos uns dos outros”, conclui Nyrhio. 

As aulas de Cuirzomba não só celebram a diversidade, mas também abrem novos caminhos para a inclusão na dança, mostrando que a Kizomba pode evoluir e abraçar todas as expressões identitárias do mundo. 

Para mais informações sobre as aulas de Cuirzomba de Nyrhio Rebastião, visite Instagram do Cuirzomba e descobre como participar nesta iniciativa transformadora. 

Texto André Soares

Fotos de Nyrhio Rebastião