Desinformação: um perigo invisível para a saúde mental da comunidade LGBTQIA+
Vivemos num tempo em que a verdade está constantemente a ser desafiada. Num clique, somos expostos a opiniões, "factos", imagens e vídeos — muitos deles falsos ou manipulados. Para a comunidade LGBTQIA+, já alvo de preconceito e exclusão social, a desinformação pode ter efeitos ainda mais graves na auto-estima, saúde mental e sensação de segurança.
Porque é que a desinformação é um problema para todes nós?
A desinformação é qualquer conteúdo (texto, vídeo, imagem, etc.) que transmite uma ideia falsa, confusa ou manipuladora — mesmo que não pareça à primeira vista. Pode ser partilhada de forma inocente ou com intenção de enganar. E está em todo o lado: nas redes sociais, nos grupos de WhatsApp, em memes virais ou até em declarações públicas de figuras conhecidas.
Se fores uma pessoa LGBTQIA+, a desinformação pode atingir-te directamente com mensagens que reforçam estigmas e medos — como teorias de que a tua identidade é “moda”, que ser trans é doença, ou que casais do mesmo sexo não deviam adoptar crianças. Estes conteúdos, além de perigosos, são profundamente danosos para o bem-estar psicológico.
Como te podes proteger da desinformação?
Aqui vão 7 dicas práticas e explicadas para não caíres nas armadilhas da desinformação:
- Verifica antes de partilhar
Se uma publicação te choca ou mexe contigo emocionalmente, pára e verifica antes de clicar em "partilhar". Pergunta-te:
- Quem publicou isto?
- Há fontes citadas?
- Parece demasiado sensacionalista?
Exemplo: Recebeste um vídeo a dizer que “há um plano secreto para banir a homossexualidade em escolas”. Em vez de partilhar logo, procura fontes fiáveis, como jornais reconhecidos ou sites de fact-checking (ex: Polígrafo).
- Aprende a reconhecer títulos manipuladores (clickbait)
Frases como “Não vais acreditar no que aconteceu!” ou “Isto muda tudo!” são iscos emocionais. O objectivo é atrair cliques — mesmo que o conteúdo não tenha fundamento.
Dica: Se o título parecer dramático demais, lê o conteúdo completo antes de formar opinião.
- Consulta várias fontes
Não confies apenas num post ou num amigo que “leu algures”. Lê versões diferentes da mesma notícia. Isso ajuda a perceber se estás a receber uma visão parcial ou exagerada.
LGBTQIA+ em foco: Quando surgem debates polémicos sobre temas LGBTQIA+, como a identidade de género ou educação sexual nas escolas, é comum ver versões distorcidas a circular.
- Não acredites só porque “alguém de confiança” partilhou
Mesmo as pessoas mais próximas podem cair em desinformação. A confiança no emissor aumenta a nossa tendência de acreditar no que é dito — mas isso nem sempre significa que é verdade.
Dica: Aprende a separar o carinho pela pessoa da credibilidade da informação.
5. Presta atenção à linguagem emocional
Desinformação tende a usar palavras que provocam raiva, medo, nojo ou indignação. São emoções fortes que impedem o pensamento crítico.
Exemplo: Um vídeo que diz “a ideologia de género está a destruir as nossas crianças” usa linguagem alarmista — e manipuladora.
- Usa ferramentas de verificação
Existem sites e páginas dedicados a analisar e verificar se algo é verdadeiro ou falso. Alguns úteis:
- Faz pausas digitais e protege a tua saúde mental
Estar sempre exposto a más notícias, discussões e conteúdos falsos desgasta. Desliga um pouco. Cuida da tua mente como cuidas do teu corpo.
Dica terapêutica: Segue perfis e páginas que te façam sentir bem, informado e representado.
Palavras que deves conhecer
Conhecer estas expressões ajuda-te a navegar melhor no mundo digital:
- Fake news: Notícias inventadas, mas que se fazem passar por verdadeiras.
- Clickbait: Títulos sensacionalistas que te levam a clicar em algo que pode não ser verdade.
- Deepfake: Vídeos ou áudios manipulados por inteligência artificial, que parecem reais.
- Câmara de eco: Quando só vês opiniões iguais às tuas, reforçando uma bolha sem perspectiva crítica.
- Viés de confirmação: Tendência de acreditar apenas em coisas que confirmam aquilo em que já acreditas.
- Fact-checking: Verificação de factos — processo de confirmar se algo é verdadeiro ou falso.
Porquê este tema importa tanto para a comunidade LGBTQIA+?
Porque quando a verdade é distorcida, a nossa dignidade também é. A desinformação ameaça direitos, alimenta preconceitos e mina o trabalho de décadas de activismo. Cria um ambiente onde ser LGBTQIA+ é questionado, ridicularizado ou atacado — e isso tem consequências reais, desde o aumento da ansiedade até à exclusão social ou ao medo de ser quem se é.
A saúde mental da comunidade LGBTQIA+ não é um luxo — é uma prioridade. E defender a verdade é parte do nosso auto-cuidado colectivo.
Cultivar pensamento crítico é um acto de resistência. Questionar é saudável. E, mais do que nunca, precisamos de proteger a nossa mente — com afecto, com consciência e com coragem.
Letícia David, Psicóloga