Dia Internacional da Memória Trans – Lembrar para quê?
A história queer está cheia de símbolos – muitas vezes, esses símbolos são pessoas, e quase sempre pessoas que perderam a vida cedo demais. No 20 de Novembro, Dia Internacional da Memória Trans, é normal evocarmos alguns desses símbolos.
Evocamos a Marsha P. Johnson e a Sylvia Rivera para reiterar que as mulheres trans estiveram na linha da frente da luta LGBTQ desde o início. Deste lado do oceano, evocamos a Gisberta Salce Júnior como prova da violência transfóbica e xenófoba de Portugal e da Europa, onde 43% das pessoas trans assassinadas em 2021 eram imigrantes.
É importante evocar estes símbolos, e é importante que a comunidade queer não se esqueça que a luta LGBTQ nada seria sem o contributo da comunidade trans. Mas o 20 de Novembro deveria, acima de tudo, fazer-nos reflectir sobre o que deixámos que acontecesse a estas pessoas para que se tornassem símbolos. Deveria fazer-nos confrontar o facto de que ainda não fizemos nada para reverter essa situação – afinal, o número de pessoas trans assassinadas em 2021 aumentou 7% em relação a 2020. O 20 de Novembro deveria ser uma oportunidade para imaginarmos um futuro em que o Dia da Memória Trans não é um dia em que se choram vidas interrompidas por ódio, escassez ou desespero, e sim um dia em que se celebram vidas longas marcadas por amor, abundância e paz.
Não será possível concretizar esse futuro enquanto nos lembrarmos das pessoas trans apenas depois de as deixarmos morrer. Enquanto só nos importarmos com a comunidade trans enquanto símbolo. Enquanto a excluirmos dos censos, dos dados, da lei, dos espaços públicos e da nossa visão de mundo. Não é possível proteger uma comunidade se a cada passo que damos nos esquecemos dela.
É importantíssimo manter viva a memória das pessoas trans, mas o mais importante de tudo é manter vivas as próprias pessoas.
Fonte: https://transrespect.org/en
Maria Kopke
Vê aqui o álbum de fotos da Marcha do Dia Internacional da Memória Trans.
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