É urgente actuar
Nenhum direito é definitivamente adquirido se não trabalharmos todos os dias por ele.
As graves perseguições que as pessoas com orientação sexual minoritária estão a sofrer na Polónia e na Hungria demonstram que o regresso do obscurantismo e da incivilidade são mais rápidos e mais próximos do que imaginamos.
É o projecto europeu que está em causa quando permitimos que os nossos concidadãos sejam perseguidos em função da sua natureza.
É urgente actuar. O Governo português errou ao invocar neutralidade para condenar uma grave violação dos princípios em que assenta a União Europeia. Errou e as críticas do Partido Socialista e da Juventude Socialista não são bastantes para encerrar o assunto. Precisamos de um Governo que não se demita das suas funções e subscreva imediatamente o ultimato que vários países europeus fizeram à Hungria.
É urgente actuar. A UEFA errou ao proibir a exibição das cores do RESPEITO no Estádio de Munique. Errou porque afirma que aquelas cores não são políticas, mas proíbe-as porque são políticas (percebem a incoerência?). Errou porque validou os argumentos dos agressores. Errou porque a neutralidade não serve a ninguém para além dos agressores. Colocar as cores do RESPEITO no Facebook é muito fácil. Difícil é defender aqueles que são perseguidos e agredidos na Hungria desafiando a indecência da extrema-direita que governa o país.
É urgente actuar. Nada é definitivamente adquirido se não trabalharmos quotidianamente para ele. Este UEFA EURO 2020 e a Presidência Portuguesa da União Europeia estão irremediavelmente marcados pela perseguição que um dos países membros/organizadores está a fazer aos seus cidadãos em função da sua orientação sexual. A neutralidade não pode continuar a ser invocada em matérias de Direitos Humanos.
Pedro Morgado, investigador no ICVS da Escola de Medicina da Universidade do Minho e psiquiatra no Hospital de Braga