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Do silêncio ao orgulho: a importância da representatividade

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Nos últimos tempos tem-se debatido bastante, até mesmo dentro da comunidade LGBTQIA+, se deveríamos realmente ter livros, filmes, séries e outros elementos culturais que sejam destacadamente de temática queer. Afinal, se queremos incluir-nos e mostrar que somos iguais a toda a gente, porque deve a cultura LGBTQIA+ ser demarcada com esse rótulo? A resposta é simples: representatividade.

 

O que é a representatividade?

A representatividade é a presença e a visibilidade de diferentes grupos e identidades nas esferas culturais, sociais e políticas. No contexto LGBTQIA+, trata-se de mostrar personagens, histórias e situações que reflitam as vivências e experiências da comunidade.

Durante muitos anos, as pessoas LGBTQIA+ viveram nas sombras, forçadas a esconder a sua verdadeira identidade devido ao medo de discriminação, violência e até morte. A falta de representação positiva nos média e na cultura popular reforçava estereótipos negativos e perpetuava a ideia de que ser LGBTQIA+ era algo a ser ocultado. E se pensamos que isto é algo que só acontecia antigamente, estamos errados. Ainda hoje, embora em menor quantidade, há crianças e adolescentes que crescem sem perceber o que são, pois o acesso a este género de representatividade é-lhes vedado. 

A representatividade serve enquanto validação de identidade, pois para muitas pessoas ver-se representada culturalmente é de extrema importância e ajuda a normalizar experiências e sentimentos; ajuda a quebrar estereótipos e a proporcionar uma maior empatia, apoio e solidariedade da população em geral para com quem é representado; serve para educar e consciencializar para as dificuldades e complexidades sofridos; e é uma inspiração para a mudança e diminuição do preconceito.

A representatividade serve enquanto validação de identidade, pois para muitas pessoas ver-se representada culturalmente é de extrema importância e ajuda a normalizar experiências e sentimentos; ajuda a quebrar estereótipos e a proporcionar uma maior empatia, apoio e solidariedade da população em geral para com quem é representado; serve para educar e consciencializar para as dificuldades e complexidades sofridos; e é uma inspiração para a mudança e diminuição do preconceito.

O caminho tem sido longo, mas tem sido percorrido. Há 15-20 anos encontrar um livro de temática LGBTQIA+ publicado em português e em Portugal era quase impensável. Actualmente, basta percorrer os sites da maioria das editoras e encontramos sempre algum. No entanto desenganem-se se isso vos faz pensar que esta representatividade deixou de ser importante.

Nos últimos tempos temos assistido a um ataque constante de certos partidos políticos contra determinados lançamentos de livros e autores. A razão é simples: eles não querem que esta representatividade exista porque isso vai ajudar a normalizar os temas, como a homossexualidade ou a transexualidade. 

Ao atacar essa representatividade, esses grupos buscam perpetuar a invisibilidade e o preconceito, tentando controlar o acesso a histórias e experiências que poderiam desafiar a visão limitada que promovem. Eles sabem que, ao permitir que essas narrativas ganhem espaço, contribuem para uma sociedade mais inclusiva e informada, onde as pessoas LGBTQIA+ podem ver suas vidas e lutas reflectidas e compreendidas. Não se trata apenas de censura cultural, mas de uma tentativa de manter um status quo que marginaliza certas identidades. A importância da representatividade não se resume apenas à visibilidade, mas à luta por uma sociedade onde todos possam existir plenamente, sem medo de discriminação ou repressão. Assim, a contínua criação e promoção de obras culturais de temática queer é um acto de resistência e afirmação, essencial para o avanço dos direitos humanos e para a construção de uma comunidade mais justa e igualitária.

Ao atacar essa representatividade, esses grupos buscam perpetuar a invisibilidade e o preconceito, tentando controlar o acesso a histórias e experiências que poderiam desafiar a visão limitada que promovem.

Há quem defenda que marcar um objecto cultural como sendo de temática queer é reduzi-lo a um rótulo. Tenho para mim exactamente o contrário: marcar um objeto cultural como sendo de temática queer é marcá-lo enquanto objecto de luta e de representatividade; enquanto arma contra a discriminação e contra o preconceito; enquanto objecto de apoio para aqueles que, de entre nós, precisam de se ver representados para se compreenderem a si próprios. E isso deveria ser um orgulho para qualquer criador.

 

Anabela Risso