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Elliot Page é o primeiro homem trans na capa da Time

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Elliot Page está pronto para este momento e nós prontas e prontos para ouvir a sua verdade.  Chegou o momento, e após a actriz Laverne Cox se tornar a primeira mulher trans a figurar na capa da revista Time em 2014, Elliot é o primeiro homem trans a fazer a capa da Time, dando um grande passo para e por toda a comunidade trans.

 

Após anunciar-se como gay em 2014, Page apresentou-se em Dezembro de 2020 na sua página de Instagram como trans e queer e esta é a primeira entrevista que concede com o mote “sou totalmente quem sou”.

O actor canadiano de 34 anos, que conhecemos em sucessos como “Juno”, “A Origem” e a série “Umbrella Academy” da Netflix, conta-nos sobre a sua infância e sentido de identidade: “Sentia-me como um rapaz. Eu queria ser um rapaz” diz no artigo; sobre o seu processo de transição e a sua saúde mental, sobre as suas lutas internas e desafios pessoais, assim como da comunidade, apresentando a pandemia como um importante momento de reflexão.

Numa entrevista pautada pela emoção, Elliot revela que sentiu a obrigação de adiar e até obliterar a sua identidade e performar a feminilidade, sobretudo através do cabelo, para seguir o seu sonho enquanto actor, simultaneamente que sobrevivia à dissonância entre como o mundo o via e como ele se via a si próprio, confessando que “simplesmente nunca me reconheci. Por muito tempo nem conseguia olhar para uma foto minha”.

Elliot chegou a ponderar desistir do mundo da actuação para poder viver a sua identidade, mas encontrou inspiração em pessoas como Janet Mock e Laverne Cox que vivem uma vida autêntica em Hollywood.

“O que eu antecipava era receber muito apoio e amor e uma enorme quantidade de ódio e transfobia. Isso é essencialmente o que aconteceu” relata Page e, assim, partilhar a sua verdade e assumir o seu lado activista impôs-se não só pelo seu bem-estar psicológico, mas também por um forte sentimento de responsabilidade, especialmente num momento crítico da história no que concerne os direitos das pessoas LGBTQI+ nos Estados Unidos da América, apontando que “a identidade humana é complicada e misteriosa, mas a política insiste em encaixar tudo em caixas”. Mas isto não é só nos Estados Unidos da América.

Esta é também uma altura para reflectir sobre as manchetes e discursos dos média portugueses que após a revelação de Elliot, e ainda nestes dias enquanto dá o rosto à capa da Time, insistem em usar o nome morto do actor, sem ter em conta o acto de violência que exercem sobre os membros da comunidade trans, perpetuando comportamentos transfóbicos e atitudes invasivas e fetichizantes sobre os corpos e a intimidade das pessoas trans.

Contudo, Page já recebeu ofertas como realizador, produtor e actor e encontra-se extasiado por, finalmente, aos seus olhos e aos olhos de todas e de todos viver em plenitude consigo mesmo e ser quem realmente é, olhando para o futuro da sua carreira com bastante entusiasmo.

 

Mariana Vilhena Henriques

Foto da capa de Wynne Neilly para a TIME