Engolir ou Cuspir? Desmistificando o mito do sémen e os seus riscos
O sémen sempre foi um tema rodeado de tabus, mitos e desinformação, especialmente dentro da comunidade gay. Provavelmente, já surgiu em conversa de café com amigos: engolir é mais arriscado do que cuspir? Existem benefícios ou malefícios fisiológicos? Quais são os reais riscos de contrair infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) em cada caso? Vamos analisar as evidências científicas e desfazer algumas crenças equivocadas.
O mito do sémen saudável
Circulam vários mitos sobre os "benefícios" de engolir sémen. Alguns afirmam que é rico em proteínas, vitaminas e minerais que poderiam fortalecer o sistema imunitário ou melhorar a pele. Em particular, há quem defenda que certas enzimas e anti-oxidantes presentes no sémen ajudariam na regeneração celular e hidratação da pele.
No entanto, a sua composição química inclui água, espermatozóides, frutose, enzimas, zinco e hormonas, mas em concentrações demasiado reduzidas para causar qualquer impacto visível na saúde dermatológica. Além disso, o contacto com a pele não permite a absorção eficaz desses compostos para que haja qualquer efeito benéfico. Assim, qualquer suposto benefício nutricional ou cosmético é praticamente insignificante.
Circulam vários mitos sobre os "benefícios" de engolir sémen. Alguns afirmam que é rico em proteínas, vitaminas e minerais que poderiam fortalecer o sistema imunitário ou melhorar a pele. Em particular, há quem defenda que certas enzimas e anti-oxidantes presentes no sémen ajudariam na regeneração celular e hidratação da pele.
No entanto, a sua composição química inclui água, espermatozóides, frutose, enzimas, zinco e hormonas, mas em concentrações demasiado reduzidas para causar qualquer impacto visível na saúde dermatológica. Além disso, o contacto com a pele não permite a absorção eficaz desses compostos para que haja qualquer efeito benéfico. Assim, qualquer suposto benefício nutricional ou cosmético é praticamente insignificante.
Fisiologia da exposição ao sémen
Quando o sémen entra em contacto com a boca, mistura-se com a saliva e pode ser engolido ou expelido. O trato digestivo, ao contrário do recto e do canal vaginal, possui ácidos gástricos e enzimas digestivas que ajudam a destruir vários microorganismos patogénicos, reduzindo a transmissão de certas ISTs.
Os principais ácidos gástricos incluem o ácido clorídrico (HCl), que cria um ambiente extremamente ácido no estômago, e a pepsina, uma enzima que ajuda a digerir proteínas. O ácido clorídrico desempenha um papel essencial na eliminação de microorganismos prejudiciais, tornando o ambiente do estômago altamente hostil para a sobrevivência de muitos vírus e bactérias. No entanto, se houver feridas na boca, gengivas inflamadas ou cortes microscópicos, o risco de infecção aumenta.
O risco de infecção é maior na boca e gengivas porque estas áreas possuem uma mucosa fina e ricamente vascularizada, tornando-se mais susceptíveis à entrada de microorganismos. Além disso, se houver feridas, gengivas inflamadas (como no caso de gengivite) ou cortes microscópicos resultantes de escovagem agressiva dos dentes ou uso de fio dentário, a probabilidade de transmissão de infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) aumenta significativamente. Essas aberturas podem permitir que vírus e bactérias entrem directamente na corrente sanguínea, escapando da acção protectora dos ácidos gástricos que, de outra forma, destruiriam muitos microorganismos antes de chegarem ao sistema circulatório.
Quando o sémen entra em contacto com a boca, mistura-se com a saliva e pode ser engolido ou expelido. O trato digestivo, ao contrário do recto e do canal vaginal, possui ácidos gástricos e enzimas digestivas que ajudam a destruir vários microorganismos patogénicos, reduzindo a transmissão de certas ISTs.
Os principais ácidos gástricos incluem o ácido clorídrico (HCl), que cria um ambiente extremamente ácido no estômago, e a pepsina, uma enzima que ajuda a digerir proteínas. O ácido clorídrico desempenha um papel essencial na eliminação de microorganismos prejudiciais, tornando o ambiente do estômago altamente hostil para a sobrevivência de muitos vírus e bactérias. No entanto, se houver feridas na boca, gengivas inflamadas ou cortes microscópicos, o risco de infecção aumenta.
O risco de infecção é maior na boca e gengivas porque estas áreas possuem uma mucosa fina e ricamente vascularizada, tornando-se mais susceptíveis à entrada de microorganismos. Além disso, se houver feridas, gengivas inflamadas (como no caso de gengivite) ou cortes microscópicos resultantes de escovagem agressiva dos dentes ou uso de fio dentário, a probabilidade de transmissão de infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) aumenta significativamente. Essas aberturas podem permitir que vírus e bactérias entrem directamente na corrente sanguínea, escapando da acção protectora dos ácidos gástricos que, de outra forma, destruiriam muitos microorganismos antes de chegarem ao sistema circulatório.
Riscos de contrair ISTs ao engolir sémen
Embora o estômago possa neutralizar muitos micro-organismos, algumas ISTs ainda representam um risco considerável:
Embora o estômago possa neutralizar muitos micro-organismos, algumas ISTs ainda representam um risco considerável:
- VIH: O risco de contaminação pelo VIH através do sexo oral foi classificado por diversas associações como "extremamente baixo". No entanto, ele existe: de acordo com HIV.gov e aidsmap.com, o risco de transmissão é de 0,04%, o que significa que, embora seja raro, não é inexistente. Isto deve-se ao facto de que o vírus não sobrevive ao ácido do estômago, mas pode ser transmitido se houver cortes na boca ou garganta. Daí a expressão "cospe ou engole, mas não deixes ficar na boca", já que manter o sémen na cavidade oral pode aumentar o tempo de exposição ao vírus e, consequentemente, o risco de infecção.
- Gonorreia e Clamídia: A gonorreia e a clamídia podem sobreviver temporariamente no ambiente ácido do estômago, mas a maioria dos micro-organismos patogénicos não consegue resistir à acção do ácido clorídrico (HCl) presente nos sucos gástricos. No entanto, estas bactérias podem infectar a garganta antes de serem engolidas, causando faringite gonocócica ou clamidiana. Isso significa que, mesmo que o ácido gástrico elimine parte dos micro-organismos, a transmissão já pode ter ocorrido antes da chegada ao estômago. É importante notar que a maioria dos casos de faringite gonocócica e clamidiana são assintomáticos, o que dificulta o diagnóstico e aumenta o risco de transmissão. Por esse motivo, práticas de sexo oral desprotegido podem resultar em infecções, mesmo sem engolir sémen. O tratamento geralmente envolve a administração de antibióticos, como ceftriaxona e azitromicina, prescritos por um profissional de saúde. É essencial seguir o regime completo de medicação para evitar resistência bacteriana.
- Sífilis: Pode ser transmitida através de feridas abertas ou microlesões. Embora o Treponema pallidum, a bactéria causadora da sífilis, seja sensível ao ácido gástrico, a transmissão ocorre geralmente antes da ingestão, por meio de contacto directo com feridas ou mucosas. O tratamento é feito com penicilina benzatina, administrada por injecção intramuscular. A adesão ao tratamento é essencial para a eliminação da bactéria e a prevenção de complicações mais graves.
- Hepatite B e C: Embora menos comum, pode ocorrer transmissão se houver contacto com sangue, especialmente quando existem feridas ou lesões na boca que facilitam a entrada do vírus na corrente sanguínea antes da chegada aos sucos gástricos. Embora o ambiente ácido do estômago seja hostil para muitos microorganismos, a transmissão pode acontecer através de contacto directo com mucosas afectadas. A Hepatite B pode ser prevenida com vacinação, enquanto a Hepatite C pode ser tratada com antivirais de acção directa, que apresentam altas taxas de cura.
- HPV e Herpes: O vírus do herpes pode ser transmitido independentemente de sintomas visíveis, e o HPV pode causar verrugas orais. Ambos os vírus podem sobreviver na boca, infectando as mucosas antes de chegarem ao estômago. No entanto, os ácidos gástricos costumam ser eficazes na destruição dos vírus, reduzindo a probabilidade de infecção pelo trato digestivo. A vacinação contra o HPV é recomendada para prevenir a infecção por estirpes de alto risco.
E se eu cuspir?
Cuspir o sémen pode reduzir os riscos de transmissão de algumas ISTs, mas não elimina completamente a possibilidade de infecção, pois a exposição ocorre no contacto inicial com as mucosas da boca. Usar preservativo é sempre a forma mais segura de prevenção.
Cuspir o sémen pode reduzir os riscos de transmissão de algumas ISTs, mas não elimina completamente a possibilidade de infecção, pois a exposição ocorre no contacto inicial com as mucosas da boca. Usar preservativo é sempre a forma mais segura de prevenção.
Conclusão: A escolha consciente
A decisão entre engolir ou cuspir é pessoal, mas deve ser informada. Se houver uma escolha menos arriscada, a pior solução é deixar na boca por períodos longos devido ao risco aumentado de infecção através das mucosas, que são altamente vascularizadas e susceptíveis à entrada de microorganismos. Se tu ou o teu parceiro têm ISTs desconhecidas ou não testadas, o uso de preservativos é fundamental. A prevenção é sempre a melhor estratégia, e realizar testes regulares é essencial para manter a saúde sexual segura e consciente.
André Cabral