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Entre Mesas e Memórias: Pap'Açorda e os 46 Anos de uma Lisboa livre

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O restaurante Pap'Açorda fez quase meio século de vida. Entre as mesas, as flores e a açorda, um livro cuidadosamente editado com textos de comensais que fizeram a sua vida entre pratos. A tarde do dia 16 de abril foi o tempo das memórias daqueles e daquelas que na rua da Atalaia até ao Mercado da Ribeira traçaram a história da cidade de Lisboa. 

 

Em 1981, o coração de Lisboa pulsava ao ritmo de uma novidade empolgante: a inauguração do restaurante Pap'Açorda no Bairro Alto. Não era uma abertura comum; era uma festa de arromba que prometia renovar o panorama gastronómico da cidade. Desde então, Pap'Açorda não apenas se estabeleceu como um ícone culinário, mas também se entrelaçou com a própria identidade cultural e social do Bairro Alto. Neste artigo, celebramos 46 anos desse estabelecimento que, ao longo das décadas, não só testemunhou a transformação de um dos bairros mais vibrantes de Lisboa, mas também participou activamente na sua redefinição e no seu renascimento. 

A história do Pap'Açorda é uma viagem de constante inovação e adaptação, reflectindo a resiliência e o espírito dinâmico de Lisboa. Vamos mergulhar nos momentos marcantes deste restaurante, explorando como se tornou uma referência da gastronomia lisboeta e um símbolo das constantes metamorfoses do Bairro Alto. 

No palco do Pap'Açorda, agora no Mercado da Ribeira, Fernando Fernandes recorda o início, com os sócios Manuel Reis e o Zé Miranda e a chegada da Chef Manuela. Fernando abandonou o curso de Medicina e de Economia para abraçar o projecto do Pap'Açorda, lugar mítico, de Açorda, Flores e de conspiração pela liberdade, a democracia numa Lisboa dos anos 80 com o Frágil e uma juventude que queria desempoeirar-se. Miguel Esteves Cardoso, frequentador do “Papa” dá o mote da noite referindo “que a única coisa em comum com aquelas pessoas todas era a idade entre os 25 e 30 anos”, que queriam fazer as coisas de forma diferente. MEC é um dos autores com os seus textos assinala a comemoração dos 46 anos do Pap'Açorda, um documento histórico que conta a história de uma Lisboa alternativa de jornalistas, bailarinos, intelectuais, políticos, poetas e sonhadores. Uma Lisboa de “um pequeno mundo artístico e intelectual que por ali desfilava em liberdade e felicidade composto por várias gerações” como refere Clara Ferreira Alves no seu texto. Outros autores como Maria João Seixas e Ana Salazar, todos e todas frequentadores do Pap'Açorda e do Frágil, ali na rua da Atalaia, o epicentro da movida lisboeta. 

Amigos que sonham e que juntam uma geração que sonha com eles, a transformação de uma comunidade na construção de outras tantas, segundo Miguel Esteves Cardoso, antes do Manuel Reis “não havia nada”. Os amigos que juntaram utopias à comensalidade de bom gosto feita como “amor” da Chef Manuela, que após 16 da abertura do Pap'Açorda trouxe o labor de uma cozinha portuguesa que “é uma vastidão de surpresas”. Com fotografias prodigiosas de Carlos Pinto, Inês Gonçalves, Luísa Ferreira e Mónica Freitas, o livro do Pap'Açorda é uma obra de memórias de um passado para o futuro, para as gerações de futuros lisboetas que fazem da cidade um lugar de conversas, intimidades, utopias, sonhos, amor e liberdade. 

Numa edição de elevado bom gosto e muito cuidado o livro do Pap'Açorda está disponível por cerca de 30 Euros, no vulgarmente conhecido “Papa”, agora, localizado no Mercado da Time Out, junto ao rio, no Cais do Sodré. 

 

André Castro Soares