No seu mais recente livro, Escritos de um Veado Vermelho, publicado em 2024, Green explora de forma profunda o movimento LGBTQIA+ e o período da ditadura militar no Brasil, mantendo o tom pessoal e a prosa fluida que lhe são característicos.

Em Escritos de um Viado Vermelho, James N. Green apresenta uma análise profunda e pessoal sobre a intersecção entre o movimento LGBTQIA+, a ditadura militar brasileira e a sua própria trajectória como activista. Publicado em 2024, este livro constitui uma contribuição significativa para a historiografia brasileira e oferece uma reflexão crítica sobre o activismo e a pesquisa académica em língua portuguesa. 

Estruturado em sete capítulos, o livro explora várias dimensões da luta pelos direitos e da história política do Brasil. A primeira parte, “Um gringo que se apaixonou pelo Brasil”, serve como introdução ao autor e revela a forma como se ligou ao Brasil, apesar de não ter qualquer ligação familiar ao país. Uma das secções deste capítulo tem o título de “Abaixo a repressão, mais amor e mais tesão” fornecendo uma visão íntima e apaixonada sobre o contexto político e social que Green vivenciou e estudou de forma muito honesta e rigorosa. 

“Abaixo a Repressão” é a segunda parte, onde Green examina a relação entre a ditadura militar e a homossexualidade, sublinhando como a repressão política também afectou os direitos e as identidades LGBTQIA+. No capítulo “Visto de fora, visto de dentro” o autor partilha a sua experiência como activista nos EUA contrastando e interligando as suas percepções com a realidade brasileira.

A quarta parte, “Dentro dos arquivos”, foca-se na investigação académica e na exploração dos arquivos públicos, com a secção “Abrindo os arquivos e os armários: pesquisando a homossexualidade no Arquivo Público do Estado de São Paulo” revelando o esforço de Green para desenterrar e preservar a história LGBTQIA+ num contexto de censura e ocultação.

Na quinta parte, “O tempo não pára”, Green analisa os golpes de 1962, 1965 e 2016, explorando como a visão norte-americana influenciou e foi influenciada pelos eventos políticos no Brasil. No penúltimo Capítulo, “Revoluções dentro de Revoluções”, James Green destaca o trabalho de Herbert Daniel, abordando as complexas relações entre política, homossexualidades e masculinidades no Brasil das últimas décadas do século XX.

Por fim, na parte “Passados e presentes”, o artigo “O que sobrou/What's left?” oferece uma reflexão sobre o impacto duradouro das lutas e mudanças discutidas ao longo do livro, mostrando como Green conseguiu integrar a defesa dos direitos LGBTQIA+ e a agenda progressista à sua identidade pessoal e ao activismo político.

Escritos de um Viado Vermelho é mais do que um trabalho académico; é uma demonstração de como o activismo pode moldar e enriquecer a pesquisa histórica. James N. Green consegue articular a sua identidade pessoal de homossexual “gringo” com o seu activismo político, evitando o papel de salvador branco frequentemente encontrado em trabalhos académicos e jornalísticos. Este livro é uma leitura essencial para quem deseja compreender a intersecção entre história, política e direitos humanos no Brasil, e um testemunho de como a pesquisa pode ser um instrumento de mudança e inclusão.

O livro Escritos de um Viado Vermelho pode ser adquirido na Livraria Travessa de Lisboa, localizada na Rua da Escola Politécnica, bem como em diversas livrarias online. Esta obra não é apenas uma contribuição valiosa para o estudo da história e dos direitos LGBTQIA+ no Brasil, mas também uma inspiração para jovens investigadores no espaço linguístico lusófono. Ao explorar a história e os desafios enfrentados por grupos marginalizados, Escritos de um Viado Vermelho encoraja os novos académicos a contar as suas próprias histórias, ajudando a garantir que os "invisibilizados" não continuem a ser discriminados e que suas vozes ganhem a visibilidade e reconhecimento que merecem.

ISBN: 9786557112281

Editora: UNESP

Páginas: 576

André Castro Soares