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Famílias arco-íris e o baptismo católico

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«Não é crime, mas é pecado», foram as palavras do Papa Francisco, há poucas semanas – um alerta para que se descriminalize a homossexualidade embora se continue a barrar o acesso ao casamento e a outros sacramentos.

Por outras palavras, a Igreja Católica continua a «criminalizar» o amor homoafectivo, porque pecar corresponde a ofender a Deus e pressupõe um arrependimento. Por outro lado, há quem considere o Papa Francisco o mais progressista de sempre, por se esforçar por emoldurar as suas palavras num tom mais tolerante, mesmo que, na prática, pouco ou nada mude.

De 2016 a esta parte, com o alargamento da lei da PMA (procriação medicamente assistida), têm nascido cada vez mais bebés com duas mães e muitas procuram baptizar as suas crianças. Tendo em consideração que a igreja condena as suas relações amorosas e não «aprova» as suas famílias, o que as motiva a baptizar as crianças? De acordo com as famílias com as quais conversei, muitas fazem-no por tradição, pois o catolicismo está enraizado na cultura portuguesa, tal como nos disse um casal de São Miguel, Açores: «a avó é muito católica e a outra mamã também tem as suas crenças, por isso cedi, por quererem que esteja protegida.»
Diversos casais indicaram que tiveram de procurar um padre que concordasse em baptizar uma criança com duas mães, sendo que nos documentos da igreja apenas constará o nome de uma, a outra terá de ficar como testemunha, apesar de a identificação civil da criança provar o facto de ter duas mamãs («não é crime, mas é pecado»).
No nosso imaginário, guardamos as memórias de festas de baptizados, com as fotos tradicionais e a família junta, talvez por isso mantenhamos esse desejo de repetir este ritual religioso, por falta de alternativas. Ainda existe a tradição de convidar padrinhos e madrinhas para assumirem a responsabilidade de fazerem parte da vida da criança, com um documento que o comprove, mesmo quando se planeia apenas uma «cerimónia simples e intimista», como nos foi dito pelas mamãs Lúcia e Vera.
Outras mães, em menor número, clarificam que não pretendem baptizar, por não se reverem na religião e por considerarem que deverá ser uma escolha consciente, como afirmam as mamãs Kari e Andreia: «quando ela quiser, iremos aceitar e prepara-lhe o baptizado, na religião que escolher.»
Curiosamente, aquando a implantação da República Portuguesa, um grupo de republicanos defendia que a Igreja Católica perderia o seu poder e que, em menos de cem anos, seria completamente esquecida, contudo, isso não se verificou e, por tradição ou não, são muitas as mulheres que, apesar de vistas como «pecadoras», pela igreja, procuram os padres mais sensíveis a esta causa e baptizam as suas crianças. Será um resquício do medo que nos leva a crer que será negada a entrada de um filho ou filha no Céu? Se a resposta for sim, então o melhor é baptizar, não vá o diabo tecê-las.

 

Márcia Lima Soares