Flamenco Queer, desafiar as regras através da arte (com vídeo)
Aproveitando as comemorações do dia que se assinalou esta semana, Dia Internacional contra a Homofobia, Bifobia e Transfobia, e o decorrente período de consciencialização que atravessamos, assume especial relevância a proposta que nos oferece Flamenco Queer, caracterizada de forma vigorosa no seu último trabalho “Azúcar pa’ tu cuerpa”.
Nascido em Outubro de 2019, o grupo composto pelo dançarino de Barcelona Rubén Heras e o guitarrista de Londres Jero Férec cresce no ceio do famoso bar queer de Barcelona “La Federica”, onde mensalmente propõem uma série de diálogos reivindicativos através da música, performance, estética e encenação, rejeitando assim o binarismo de género tão fortemente estabelecido na sociedade e tão associado ao flamenco.
Flamenco Queer é uma lufada de ar fresco que, numa sociedade tendencialmente rígida, implanta no flamenco tradicional uma nova interpretação onde, desde uma perspectiva queer, abordam questões sociais como VIH, BDSM ou a violência intra género.
Por vezes, as histórias oferecem mudanças de roteiro, e esta é uma delas. O projecto olha a tradição propondo uma visão alternativa da história "oficial" do flamenco, procurando a representação interseccional entre os artistas, com o objectivo de dar visibilidade à presença e contribuição queer em todos os aspectos da cultura flamenga, actual e histórica. Ao mesmo tempo reivindica a necessidade de criar espaços seguros e inclusivos onde o flamenco possa ser criado e apreciado.
A proposta de uma perspectiva queer representa os estilos mais profundos de dança, canto e violão através de uma estética narrativa contemporânea, deixando clara a ligação pessoal entre o flamenco e a cultura queer. A força deste projecto reside sobretudo na autenticidade da identidade, que combina elementos de drag e performance com dança, canto, jogo e palmas, mas também na representação de artistas multidisciplinares que apoiam e colaboram no projecto. No seu reportório contam com colaborações de peso como as cantoras Lídia Mora, Ana Brenes, Sara Sambola e Cristina López, bem como a estrela internacional de dança Jay Revlon e a drag queen chilena Norma Mor.
Num momento em que a autodeterminação de género vem sendo tao debatida publicamente, Flamenco Queer destaca-se por encontrar na arte, em especial no flamenco, a maneira mais honesta e genuína para comunicar-se, sem suportar nenhuma carga nem estar atados a nenhum modelo social.