Gillian Anderson reuniu em livro: "Desejo – fantasias sexuais e amorosas de mulheres anónimas"
O livro “Desejo – fantasias sexuais e amorosas de mulheres anónimas”, de Gillian Anderson, foi lançado em Portugal em Setembro de 2024, pela editora Albatroz.
A autora, que se tornou mundialmente famosa com os seus papéis nas séries Ficheiros Secretos e Sex Education, é uma multipremiada actriz de cinema, televisão e teatro. É também reconhecida pela sua acção activista.
Este livro começa com o convite para que mulheres de todo o mundo partilhassem as suas fantasias, de forma anónima e a adesão foi muito superior à inicialmente esperada. Foi a própria Gillian Anderson a fazer a selecção das cartas que compõem o livro, tendo reunido no mesmo um total de 174 partilhas, em quase 400 páginas.
Embora a sociedade vá evoluindo, existem alguns temas relacionados com o sexo que ainda são tabu e ainda há uma tentativa de limitar as mulheres a determinados papéis. Este livro pretende ser um objecto de voz das mulheres, abordando temas como o consentimento, a feminilidade, a infidelidade, o amor, o ódio, a maternidade, o prazer e a dor, representado um objecto de liberdade e de poder.
No final de cada carta, é feita a caracterização de cada autora, sendo apresentados os seguintes critérios: grupo étnico, nacionalidade, religião, salário anual, orientação sexual, estado civil e se a pessoa tem ou não filhos. O livro encontra-se dividido em vários capítulos, mais ou menos por categorias de fantasias, tais como: ser venerada, kink, a cativa, estranhos, poder e submissão, entre outras.
As fantasias reunidas são várias e diversas, algumas mais semelhantes e outras muito diversificadas entre si, mas todas parecem reunir um ponto em comum – o anonimato constituiu um factor de segurança para as pessoas que participaram partilharem as suas fantasias e sentimentos profundos, algumas tendo afirmado que nunca haviam feito este tipo de partilhas antes. Muitas das participantes são mulheres bissexuais/pansexuais (estas duas orientações sexuais aparecem sempre juntas, sem separação) e algumas são mulheres queer ou lésbicas.
O livro é uma viagem, intimista e desafiante, ao universo do poder da imaginação e do abstracto, revelando o quanto somos diferentes, mas tão semelhantes e realçando a importância de nos desconstruirmos e libertarmos de algumas convenções sociais.
Para a autora, que também tem uma partilha anónima no livro, este é muito mais do que uma compilação de histórias e realça que “O mais poderoso em todas as fantasias sexuais intencionais é o facto de cada pessoa ser a autora das suas próprias histórias. Temos poder e controlamos a acção. Podemos escolher fazer o que quisermos, com quem quisermos, com quantas pessoas quisermos, quando quisermos – sem medo, julgamento social ou consequências”.
O livro é uma viagem, intimista e desafiante, ao universo do poder da imaginação e do abstracto, revelando o quanto somos diferentes, mas tão semelhantes e realçando a importância de nos desconstruirmos e libertarmos de algumas convenções sociais. Esta obra pode igualmente trazer-nos algumas reflexões, nomeadamente sobre a activação de gatilhos em contraste com a questão se será que nas fantasias tudo é válido, desde que se permaneça nesse universo? Houve também o cuidado da autora em, apesar de ter escolhido o termo “mulheres”, referir que sabe que este é imperfeito. Mas o que mais importa realçar é que este livro é sobre o poder de dar voz a grupos de pessoas quem têm sido sistematicamente silenciadas, sendo um importante contributo para a libertação sexual.
Paula Monteiro