Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]

Dezanove
A Saber

Em Portugal e no Mundo

A Fazer

Boas ideias para dentro e fora de casa

A Cuidar

As melhores dicas para uma vida ‘cool’ e saudável

A Ver

As imagens e os vídeos do momento

Praia 19

Nem na mata se encontram histórias assim

"Golden Boys" de Phil Stamper

Golden Boys de Phil Stamper

Por vezes é preciso sair da zona de conforto para encontrar a nossa verdadeira essência.

Às vezes esses momentos de mudança não são os mais expectáveis, perfeitos ou prazerosos. No entanto, estas inesperadas ocasiões tornam-se sempre memoráveis pela
sua capacidade em nos fazer mudar, em nos prover de novas experiências de vida, em nos conduzir a novos lugares. Stamper, escreve "Golden Boys" durante um dos períodos mais assustadores do séc.XXI, a pandemia covid-19, corolário de maior impacto na vida de milhões de pessoas em todo o mundo, ensinando-nos novas formas de ser, estar, e de viver. Tal como esta obra nos conta, ainda que de uma forma agradavelmente diferente.
Golden Boys são Gabriel, Reese, Sal e Heath, quatro jovens queer do estado de Ohio
(EUA), amigos inseparáveis que no penúltimo Verão da sua formatura decidem embarcar numa jornada única à descoberta dos seus sonhos, interesses familiares, convicções políticas, oportunidades profissionais para destinos bem diferentes e longe de casa como Boston, Florida, Washington e Paris, cada um desafiando-se a encontrar formas de enfrentar os seus desafios pessoais, familiares, românticos e vocacionais.
Ao longo dos cinquenta e sete capítulos deste livro, que por sinal bastante breves, somos convidados a entrar na vida e nas conexões estabelecidas entre cada um dos amigos.
Desde a “amizade colorida” e certa dependência emocional entre Gabriel e Sal, à paixão oculta entre Reese e Heath, das partilhas e bloqueios emocionais entre os quatro, dos dramas escolares e familiares, a cooperação e lealdade entre os três surge como escudo protector num meio marcado pela discriminação homofóbica ainda que, neste aspecto, o autor não entre em detalhes maiores, fazendo apenas referência a episódios esporádicos e momentâneos de um acontecimento passado daquele narrado.
É na separação da família, dos amigos, de um grupo de amigos que é ele próprio uma família, que esta obra nos mostra a dificuldade em abandonar as nossas raízes, a nossa zona de conforto, os medos de seguir em frente quando as perspectivas de futuro são vagas e a ansiedade surge como uma barreira para o alcance dos nossos sonhos e felicidade plena. Ao longo da narrativa vamos percebendo o desenlace das experiências mais ou menos tumultuosas de cada amigo. Do crescimento profissional e pessoal de Gabe no seu estágio numa ONG que o leva a enfrentar a sua fobia social. Da (re)descoberta do vínculo familiar de Heath com a sua família e de um novo amor de Verão, da descoberta do talento de Reese na escola de design em Paris e da sua amizade com Philip, ou ainda Sal e o seu burnout durante o seu estágio em Washington DC que o levaria a ponderar a influência dos pais nos seus projectos profissionais.
No final da estória, inevitavelmente o leitor acaba por criar uma ligação mais próxima com alguns dos personagens, pela sua personalidade, experiência de vida, pela forma como encara cada desafio, ainda que nem sempre de forma mais acertada, mas pela coragem e resiliência em que decide tomá-la. É neste ponto que o livro pode deixar a desejar, podendo dar mais espaço a cada um dos personagens traz inúmeros momentos que pouco enriquecem a construção narrativa quer individual quer mais alargada deste romance. Também, no início da narrativa, o facto dos quatro personagens serem apresentados de forma aleatória, sistemática, pode levar a algumas dificuldades de enquadramento da história, no entanto, considerando a facilidade de leitura e a co-relação entre os capítulos, logo compreendemos todo o enredo.
Esta é uma estória sobre um Verão mágico, sobre a descoberta da identidade, sobre o papel e importância dos amigos e da família, da complexidade do amor entre uma melhor amizade. Um livro que sendo divertido mas ao mesmo tempo dotado de um realismolevanta a curiosidade sobre o desenlace destes Golden Boys e das suas vidas após as várias peripécias deste Verão. Fica a pergunta, será que temos futuro para estes jovens?
Definitivamente que "Golden Boys" é uma sugestão de leitura de Verão.

Editor: Clube do Autor
Idioma: Português
Dimensões: 153 x 234 x 22 mm
Encadernação: Capa mole
Páginas: 336
Classificação Temática: Romance

 

Daniel Santos Morais é mestre em Sociologia pela Universidade de Coimbra. Feminista, LGBTQIA+, activista pelos Direitos Humanos. Partilha a sua vida entre Coimbra e Viseu.