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Nem na mata se encontram histórias assim

Ignacio Quereda, ex-seleccionador espanhol de futebol feminino, é denunciado por abusos: "Quero erradicar o lesbianismo e os maus hábitos!"

futebol feminino  machismo.jpg

O livro da jornalista Danae Boronat, intitulado “No las llames chicas, llámalas futbolistas” (“Não as chames miúdas, chama-as futebolistas”), denuncia múltiplos abusos perpetrados por Ignacio Quereda, seleccionador de futebol feminino em Espanha entre 1988 e 2015.  A Real Federação Espanhola de Futebol é, ainda, acusada de abafar as denúncias das atletas.

 Danae Boronat.jpgAs inúmeras histórias de humilhações, insultos e acusações de abuso sexual foram agora denunciadas e reveladas em primeira mão pelo jornal El Mundo. Enquanto dezenas de jogadoras e ex-internacionais relatam como foram vitimizadas por Quereda, este decidiu não comentar as acusações.

Além de comentários machistas como “Precisas é de um bom macho”, o treinador dava palestras homofóbicas no balneário com frequência, paralisando as atletas: “Quero erradicar o lesbianismo e os maus hábitos!” é um exemplo dos seus comentários homofóbicos. Vicky Lousada, capitã do Barcelona, revelou que num artigo algumas jogadoras assumiram ser lésbicas e, depois disso, o seleccionador deu a entender que “se expusessem a sua condição sexual publicamente poderia haver consequências desportivas”.

Muitas jogadoras confessaram não aguentar a humilhação pública, optando pelo anonimato. Uma delas conta que abandonou a selecção devido aos comportamentos do então seleccionador. Marta Corredera, actual jogadora do Real Madrid, confessa, inclusive, que muitas vezes as atletas choravam no quarto.

De acordo com o livro referido, um grupo de jogadoras escreveu uma carta à Federação, em 1996, para denunciar o comportamento do técnico, dos treinos deficientes e dos maus-tratos psicológicos. “Ele era inamovível. Tentámos três ou quatro vezes mudar as coisas, mas não conseguimos. (...) Nós denunciámo-lo, mas não tivemos apoio. Era um calvário ir à selecção” denunciou Pilar Vargas, ex-jogadora e primeira mulher a completar o curso de treinadora em Espanha. Este calvário de 27 anos foi perpetuado com a condescendência  da Real Federação Espanhola de Futebol.

Importa relembrar que os comentários homofóbicos e machistas, no mundo do futebol feminino, são, efectivamente, uma constante, mesmo por parte de treinadores e dirigentes. Em 2018, Gabriel Camargo, presidente do Tolima, clube de futebol da Colômbia, referiu que “o futebol feminino é um tremendo terreno fértil para o lesbianismo” e que “não rende nada economicamente”. Estas declarações surgiram do seu desagrado perante a obrigatoriedade de todos os clubes, que disputariam a Taça Libertadores em 2019, terem uma equipa feminina.

Em Portugal, recorrentemente surgem vozes queixosas e discordantes relativamente à forma como a Federação Portuguesa de Futebol trata o futebol e o futsal feminino. Exemplo disso foram os protestos, em 2020, de 132 jogadoras contra a decisão da FPF em propor, como medida transitória, um limite salarial às equipas da I Liga de futebol feminino. O movimento ficou conhecido como “Futebol Sem Género”. Perante as várias contestações, a FPF reconsiderou a medida e, efectivamente, a norma do limite orçamental não constou da proposta final do regulamento 2020/2021 da I Liga de futebol feminino.

Perante tudo isto, o dezanove.pt contactou a FPF, o Sindicato de Jogadores, a Associação Portuguesa de Jogadores Amadores, a ILGA Portugal, o Projecto “Jogo das Raparigas” da Associação Portuguesa Mulheres e Desporto, bem como outras pessoas do mundo do futebol. No entanto, até à data da publicação deste artigo, não foi possível obter qualquer reacção a este tema por nenhuma das partes.

 

Mariana Vilhena Henriques e Sara Lemos