INDEX lança “A Verruga e outros Contos Queer” e “A Vida Sexual: Homossexualidade”
A editora INDEX fez um lançamento duplo, no passado dia 27, no âmbito da colecção de Clássicos de Literatura Gay.
Em A Verruga e outros Contos Queer Fialho de Almeida apresenta uma antologia que reúne vários dos seus contos: O Funâmbulo de Mármore (em Contos, 1881), A Verruga (em Lisboa Galante, 1890), Miss Ellen (em Lisboa Galante, 1890), De Noite (em Lisboa Galante, 1890) e O Cancro (em O País das Uvas, 1893).
Demonstrando uma certa falta de empatia nalguns destes contos, nomeadamente n’A Verruga, Miss Ellen (1890) e O Funâmbulo de Mármore (1881), e menos ainda na descrição do ambiente crepuscular dos engates masculinos em Lisboa no conto De Noite (1890), consegue apresentar, em contraste, uma exaltação descritiva da beleza masculina noutras obras. Percebe-se o seu profundo conhecimento das temáticas que retrata nesta antologia, mas o segredo mal guardado do seu armário pessoal só muito mais tarde viria a ser exposto por Fernando Pessoa. Médico de profissão, Fialho foi pioneiro de uma linguagem higienista do desvio, da anormalidade e da degenerescência, começando este tipo de escrita a vingar no discurso literário e acabando, inclusive, por se vir a impor definitivamente na época.
A Vida Sexual: Homossexualidade
Uma obra do prémio Nobel português, professor e doutor, Egas Moniz, teve 19 edições até ser censurada pelo Estado Novo, em 1933. Não só foi um livro de leitura popular como, simultaneamente, foi um influente manual de medicina. Acabou por se demonstrar decisivo para a construção das noções da “normalidade sexual” e patológica em Portugal. Esta nova edição, anotada e revista, contém o capítulo dedicado à “Homossexualidade” do volume II de A Vida Sexual, bem como o índice de cada um dos volumes e os respetivos preâmbulos e a introdução ao volume II.
À época, Egas Moniz, considerado o precursor português da sexologia e apresentando uma espécie de racionalidade biológico/científica da época, declara a sexualidade entre homens como uma disfunção, uma anomalia, uma perversão do instinto sexual e até uma doença repugnante (!), com origem na educação e na sociedade. Admite, porém, que a mesma não é exclusiva da raça humana e que foi observada em todas as épocas e em todos os países. Apesar de considerar que “para a saúde do homossexual são mais saudáveis as práticas da inversão do que as relações heterossexuais”, recomenda a profilaxia, para uma cura da doença, defendendo o fim da separação das escolas por sexo e ainda o tratamento, por sugestão e hipnose.
Pedro Marques