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Interseccionalidade: mais do que uma ferramenta teórica uma abordagem prática

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Como é que o conceito de interseccionalidade nos pode ajudar a reflectir sobre as desigualdades ainda presentes assim como as conquistas das mulheres ao longo da história?

 

O 8 de Março ou Dia Internacional da Mulher é um dia importante para reflectir sobre as conquistas das mulheres ao longo da história, mas também para destacar as lutas que ainda persistem em busca da igualdade de direitos e de oportunidades. É uma data para fortalecer a consciência e denúncia das desigualdades ainda presentes como é a violência de género, a disparidade salarial e a sub-representação das mulheres em diversas esferas sociais. 

Ainda que Portugal tenha a assistido a avanços na promoção da igualdade de género, com uma legislação robusta, políticas públicas voltadas para a protecção dos direitos das mulheres e um aumento na visibilidade feminina em várias áreas, ainda persistem desigualdades estruturais como são a disparidade salarial, a violência de género e a sub-representação das mulheres em cargos de liderança - em 2024 as mulheres representavam apenas um terço (33%) dos deputados no Parlamento.

De forma a compreender e agir sobre a forma como os diferentes tipos de desigualdade operam e se relacionam o conceito de interseccionalidade mostra ser particularmente útil. Originário dos estudos feministas, desenvolvido na década de 1980 pela teórica feminista Kimberlé Crenshaw, o conceito mostrava-nos e mostra-nos ainda hoje como, por exemplo, mulheres negras podem sofrer uma opressão diferente das mulheres brancas ou dos homens negros, pois enfrentam tanto o racismo quanto o sexismo. 

Quero com isto dizer que o conceito de interseccionalidade nos ajuda a entender que a discriminação não é uma experiência única ou linear. Mostra como diferentes tipos de desigualdades se acumulam e se reforçam mutuamente criando camadas de marginalização para certos grupos "minoritários". Pensemos, por exemplo, a importância do conceito para identidades trans femininas, reconhecendo que as mulheres trans não enfrentam apenas discriminação de género, mas também racismo, classismo, capacitismo, lesbofobia e outras formas de opressão estrutural.

O conceito de interseccionalidade reconhecendo as diferentes formas de discriminação pode assim ser um agente de transformação aquando aplicado em diferentes contextos sociais, sejam eles na formulação de políticas públicas mais igualitárias, no reconhecimento da diversidade nas lutas e movimentos sociais assim como nas práticas organizacionais mediante a capacitação para a diversidade e igualdade.

Neste 8 de Março, num tempo de caça às bruxas às pessoas trans, gostaria de dar destaque à importância da interseccionalidade para a luta transfeminista, que não se limitando apenas à defesa das mulheres trans fortalece a luta pela justiça social e igualdade de género para todas as pessoas permitindo a liberdade de ser quem se é sem ser restringido por normas sociais.

Porque a luta de mulheres trans, para além da transfobia que enfrentam, é a mesma de que mulheres cisgénero no que toca à violência de género, ao acesso a cuidados de saúde adequados, ao reconhecimento e autodeterminação dos seus corpos e das suas identidades assim como os preconceitos e estereótipos sexistas e paternalistas.

Porque o 8 de Março é um dia para celebrar e fortalecer a luta das mulheres trans, ao lado de todas as mulheres, sem discriminação.

 

Daniel Santos Morais é mestre em Sociologia pela Universidade de Coimbra. Feminista, LGBTQIA+, activista pelos Direitos Humanos. Partilha a sua vida entre Coimbra e Viseu. É administrador do site Leituras Queer.

 

 

 

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