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Investigação: A relação entre o sistema imunitário e a saúde mental na comunidade LGBTIQA+ 

banner opiniao Letícia David

Nos últimos anos, temos assistido a um crescimento significativo na investigação sobre a ligação entre o sistema imunitário e a saúde mental. Uma das pesquisas mais inovadoras da actualidade, liderada por Carolin Hoffmann no Algarve Biomedical Center Research Institute, explora precisamente esta ligação, focando-se na forma como a disfunção imunitária pode contribuir para perturbações como a esquizofrenia. Mas o que significa esta descoberta para a  comunidade LGBTIQA+? E de que forma pode influenciar a nossa compreensão da saúde mental de grupos vulneráveis? 

 

O corpo e a mente: uma relação indissociável 

Durante muito tempo, a psiquiatria e a imunologia foram vistas como áreas  separadas da medicina. No entanto, estudos recentes sugerem que alterações no sistema imunitário – como inflamações crónicas ou respostas auto-imunes desreguladas – podem estar directamente ligadas a distúrbios psiquiátricos. Hoffmann e a sua equipa estão a investigar como estas interacções ocorrem,  procurando entender se a inflamação pode ser um factor de risco para perturbações como a esquizofrenia, depressão e ansiedade severa. 

Para a comunidade LGBTIQA+, esta investigação pode ter implicações significativas. Sabemos que o stress crónico, resultado da discriminação, da rejeição familiar e da violência social, afecta negativamente o sistema imunitário, aumentando os níveis de inflamação no organismo. Isto sugere que pessoas LGBTIQA+ podem estar particularmente vulneráveis a distúrbios psiquiátricos não apenas por razões sociais, mas também biológicas. 

 

A ciência confirma o que já sabíamos 

Esta pesquisa vem reforçar algo que, enquanto psicóloga, observo frequentemente: o impacto da discriminação na saúde mental não é apenas  psicológico – é fisiológico. O corpo responde ao stress minoritário com um aumento da produção de hormonas do stress, como o cortisol, que por sua vez pode desregular o sistema imunitário. Com o tempo, estas alterações podem contribuir para estados inflamatórios persistentes, associados a uma maior  incidência de doenças psiquiátricas. 

Se a ciência comprova que a opressão e o preconceito deixam marcas visíveis no corpo, então a luta por políticas públicas inclusivas e o acesso equitativo à saúde mental deixam de ser apenas questões éticas – tornam-se uma necessidade de saúde pública.

 

Caminhos para a inclusão 

Os resultados preliminares da investigação de Hoffmann apontam para a necessidade de abordagens interdisciplinares na saúde mental, que considerem tanto o impacto psicológico quanto os factores biológicos que podem predispor certos grupos a doenças psiquiátricas. Para a comunidade LGBTIQA+, isto significa que as respostas de saúde precisam de ir além da terapia tradicional e incluir um acompanhamento médico mais abrangente, que tenha em conta estas vulnerabilidades específicas. 

Embora haja avanços na inclusão de pessoas LGBTIQA+ nos cuidados de saúde, persistem lacunas significativas. A formação dos profissionais de saúde deve evoluir para incorporar uma perspectiva mais integrada, que considere tanto os impactos sociais da discriminação quanto os factores biológicos que influenciam a saúde mental. Sem este olhar abrangente, o risco de diagnósticos imprecisos e de tratamentos pouco eficazes continua a ser uma realidade para muitas pessoas da  comunidade. 

 

O futuro da saúde mental LGBTIQA+ 

Se esta investigação se confirmar, pode abrir portas para novos tratamentos e estratégias de prevenção mais eficazes para perturbações psiquiátricas em  grupos vulneráveis. Mais do que isso, pode dar ainda mais peso ao argumento de que políticas públicas inclusivas e ambientes sociais seguros não são apenas uma questão de direitos humanos – são fundamentais para a saúde e o bem-estar  da comunidade. 

A ciência está, cada vez mais, a demonstrar aquilo que activistas e profissionais de saúde mental vêm a defender há décadas: viver num ambiente que aceita e valida a identidade de cada um não é um luxo – é uma necessidade biológica.

 

Letícia David, Psicóloga

 

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