Joana e Teresa pegaram no carro há oito meses para tentar descobrir se seria possível conduzir de Portugal até à China
Será possível conduzir desde Portugal até à China? Foi esta uma das motivações que levou Teresa e Joana a pegarem no carro há oito meses e tentar encontrar essa resposta. Saíram de Lisboa, a 17 de Maio de 2024, e a cama não estava acabada, as cortinas do carro não tinham sido testadas e não sabiam muito bem como colocar meses de vida dentro de um carro. Atravessam a Ponte 25 de Abril a ouvir António Variações, à procura de ir onde nunca foram.
Com esta viagem, têm percebido o verdadeiro privilégio de viverem num país onde há liberdade de expressão, direito à educação, onde quase não têm de se preocupar com questões como a guerras, os direitos como mulheres e pessoas LGBTQ+ e pobreza extrema.
dezanove: Como surgiu a ideia desta aventura?
Teresa e Joana:
Que países já visitaram?
Até agora já visitamos 20 países. Começámos por fazer a costa do mar Mediterrâneo até Itália. Depois, percorremos os Balcãs seguindo quase sempre o mar Adriático. Entrámos na Grécia pela Albânia e percorremos o país até à fronteira com a Turquia.
Sempre a seguir para Este, entramos na Geórgia pela fronteira junto ao Mar Negro e descemos até à Arménia. O plano era seguir até ao Irão, mas por motivos burocráticos tivemos de voltar a trás, percorrer novamente a Geórgia para entrar de novo na Turquia e conseguir assim entrar no Irão. Passámos 20 dias no Irão, e depois percorremos o Paquistão até à Índia.
Ficamos um mês e meio na Índia e esse foi o último país do carro, em Mumbai enviámo-lo de barco de volta para Portugal, apanhando um voo para a Tailândia.
No sudoeste asiático já percorremos a Tailândia, Laos e o Cambodia, onde nos encontramos agora.
O plano a seguir é Vietname e depois China. A seguir a isso ainda está por determinar!
O que vos tem acrescentado esta experiência? Não só individualmente como casal.
Individualmente, ambas tivemos um boost na nossa autoconfiança, independência e capacidade de “desenrasco” devido à variedade de situações que vivemos.
Ao longo do caminho, fomos adquirindo um vasto conhecimento histórico sobre todas as regiões e religiões pelas quais passámos.
Também tivemos de nos adaptar a viver com pouco, o que no início foi desafiante, mas rapidamente nos habituámos.
Toda a esta viagem fez-nos perceber o verdadeiro privilégio de vivermos num país onde temos liberdade de expressão, direito à educação e quase não temos de nos preocupar com guerras, os nossos direitos como mulheres e pessoas LGBTQ+ e pobreza extrema.
Toda a esta viagem fez-nos perceber o verdadeiro privilégio de vivermos num país onde temos liberdade de expressão, direito à educação e quase não temos de nos preocupar com guerras, os nossos direitos como mulheres e pessoas LGBTQ+ e pobreza extrema.
Como casal, desenvolvemos a nossa comunicação. Logo no início da viagem vimos que ia ser bastante desafiante viver num espaço tão pequeno (o carro) sempre com a companhia uma da outra.
Estamos muito mais conscientes dos efeitos das nossas acções e sabemos como resolver e lidar com problemas juntas.
Fazendo uma viagem tão grande e estando tão longe de casa, torna-se imperativo que sejamos a base de apoio uma da outra. Não conseguíamos fazer isto uma sem a outra.
Como casal, desenvolvemos a nossa comunicação.
Enquanto casal, já sofreram algum tipo de discriminação durante as vossas viagens? Se sim, podem relatar um pouco?
Antes de entrar em cada país verificamos sempre os nossos direitos como casal e pessoas LGBTQ+.
Durante a viagem passámos por países onde não existe o reconhecimento de direitos de pessoas LGBTQ+. Nestes países apresentávamo-nos apenas como amigas para a maior parte das pessoas. Este “disfarce” tornou com que não fôssemos alvo directo de discriminação.
Antes de entrar em cada país verificamos sempre os nossos direitos como casal e pessoas LGBTQ+.
Contudo, presenciámos bastantes momentos onde havia homofobia enraizada.
Independente de todos estes pontos, conhecemos pessoas LGBTQ+ em quase todos os países da viagem, onde foi possível ouvirmos testemunhos sobre a discriminação que ocorre contra a nossa comunidade diariamente.
Também fomos muito sortudas por termos conhecido tantas pessoas com mentalidade aberta e que, mesmo não sendo normalizado no seu país, nos mostraram curiosidade ao invés de ódio.
No final das contas, sentimos que a maior discriminação que recebemos acontece por sermos mulheres e não necessariamente por sermos um casal. Desde sermos ignoradas, interrompidas e assediadas por figuras de autoridade, sermos perseguidas por estranhos na auto-estrada, e até nos questionarem como poderíamos estar a fazer uma viagem assim sem um homem. Sentimos uma grande disparidade na maneira com que nos tratavam estando só as duas, ou com a presença de um homem.
Sentimos que a maior discriminação que recebemos acontece por sermos mulheres e não necessariamente por sermos um casal.. e até nos questionarem como poderíamos estar a fazer uma viagem assim sem um homem.
Acompanha o resto da viagem da Teresa e da Joana em @dis_comfort.zone
Entrevista de Jéssica Vassalo