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Liberdade: expressão da sexualidade e identidade de género nas escolas

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A nova geração, uma geração que cresceu na era digital com acesso a todo o tipo de informação. É conhecida por não ter preconceitos, estar em cima de tudo o que se passa no mundo e ser revolucionista. Mas, será que é realmente assim?

 

 

Já entraram numa escola secundária recentemente? Se não entraram, ainda bem! Mas, se entraram como sentiram que era o ambiente? Para mim, é um campo de minas onde quando alguém dá um passo em falso explode, e não é uma explosão local, mas sim uma “bomba nuclear”.  Se já é assim para uma pessoa considerada “normal” como será para aqueles que saem do padrão da sociedade? E para os jovens LGBTQ+ da nova geração? Para eles… é uma supernova!

Como referido acima, esta geração tem todo o tipo de informação à distância de um click mas, mesmo assim, não são tão mente aberta como se diz que são e por quê? Porque, normalmente, só quem está inserido numa comunidade pesquisa sobre ela. Esta geração foi criada com uma regra muito clara: “Se não te envolve, não é problema teu”. Eles não querem saber se os outros sofrem ou não, se as acções deles são correctas ou não… ou se, sequer, chamam a pessoa pelo nome certo. Eles só querem que não os prejudique! Claro que este retrato não é geral. Existem jovens preocupados e que querem ver toda a gente a ter os seus respectivos direitos, mas esses, considero estão em número muito pequeno comparado com aqueles que vêem e ignoram ou que até dão a sua opinião, mas sem fundamentos nenhuns.

Se me perguntassem, diria que isto tudo acontece por uma razão muito simples e com origem no mesmo lugar onde tudo sucede, para mim, a culpa é da escola! Porque todas as semanas os jovens vão para a escola para aprender o que os outros acham, mas quando é que alguém realmente lhes pede uma opinião!? Eles são ensinados que, para terem um bom futuro, têm de se enquadrar na sociedade, agir assim, vestir-se assado. E, o mais importante, são ensinados que só há uma resposta correcta e que tem de ter certas características se não perdem pontos. Estamos, literalmente, a ensinar pessoas a ver o mundo a preto e branco. Depois, quando aparece alguém que o quer ver às cores, essa pessoa sofre. Sofre até lhe conseguirem meter um filtro para ela deixar de ser diferente e se encaixar no padrão.

Isto tudo acontece por uma razão muito simples e com origem no mesmo lugar onde tudo sucede, para mim, a culpa é da escola!

Como só quem está inserido na comunidade procura informação sobre a mesma, existem muitas dúvidas em relação ao que realmente é sexualidade e identidade de género, principalmente qual é a sua diferença. Devia ser um papel das escolas, com o programa PRESSE (Programa Regional de Educação Sexual em Saúde Escolar), ajudar os adolescentes a compreender o que são e como se identificam de forma a normalizar algo que precisa urgentemente de ser normal.

Voltemos ao tema inicial, será que realmente existe liberdade para os jovens expressarem a sua sexualidade e identidade de género? Sim, existe. Mas não está nem perto do que deveria ser, porque essa liberdade vem com vários custos. Segundo o relatório de discriminação de 2019 da ILGA Portugal, 16,87% das vítimas da discriminação tinham menos de 18 anos. Dentro dos autores das várias discriminações, 9,93% eram colegas de escola e 3.70% eram professores. Sendo o grupo etário entre os 15 e os 24 anos referido como o com maior parte dos autores dos crimes de discriminação e violência. Um dos lugares de maior incidência de discriminação com uma percentagem de 13,04% foi a escola.
Ao longo do mesmo relatório podemos ainda encontrar vários relatos de jovens. Por exemplo: "Pontapés nas costas, na cabeça, cuspiram-me na cara, tentaram-me violar" (relato de um jovem trans referindo-se a uma situação ocorrida na escola); "Então você é um homem com tomates ou sem tomates?" (jovem trans referindo-se a comentários de um professor da escola); "Falei com o director da minha escola sobre a lei de autodeterminação de género, pedi para usarem a casa de banho masculina e negaram-me" (relato de um jovem trans sobre a sua escola).


O dezanove.pt também recolheu alguns relatos de pessoas entre os 14 e os 18 numa escola secundária localizada no interior do país. Frases como: "Tu não és Bi, estás apenas a seguir a moda" (jovem bissexual); "Eles simplesmente colocaram a minha sapatilha na sanita, não por eu ser LGBT, mas por eu ser diferente" (relato de jovem queer sobre uma situação que lhe aconteceu na escola); "Espero que isso seja só uma fase porque o que estás a fazer mete nojo" (ouvido por jovem lésbica); "Elu, delu, experimentar colocar isso num teste de português vais ver o que te acontece..." (comentário feito a jovem género não binário); "Eu não tenho nada contra apenas não me sinto bem ao ver duas raparigas a beijarem-se" (presenciou um jovem bissexual); "Agora deu-te para andares a trocar cuspes com gajas, olha que ainda apanhas uma doença" (relato de jovem bissexual).

 

Temos de deixar de passar a mensagem de ilusão de que está tudo bem, quando na verdade não está.

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Se ensinam os jovens a diferença entre uma mitocôndria e um cloroplasto, não lhes poderiam também ensinar a aceitar algo que é completamente normal!?

 

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Os adultos do amanhã são as crianças de hoje, e essas mesmas crianças estão a ser educadas com os estigmas de ontem.

 

Como podemos ver pelos diversos relatos existe uma clara falta de entendimento e compreensão por parte destes jovens que tanto se diz serem revolucionários.
Está mais do que na hora de isto deixar de ser assim! Temos de deixar de passar a mensagem de ilusão de que está tudo bem, quando na verdade não está. Se ensinam os jovens a diferença entre uma mitocôndria e um cloroplasto, não lhes poderiam também ensinar a aceitar algo que é completamente normal!? Temos de passar ao mundo uma visão de que está tudo bem em ser-se diferente e ninguém deveria sofrer por o ser. Deveríamos todos ter liberdade para nos sentirmos atraídos por qualquer pessoa independente do seu órgão sexual e deveríamos ser encorajados a expressar essa liberdade principalmente em anos como os da adolescência onde os jovens tendem a procurar aprovação de toda a gente. Também nos deveríamos sentir à vontade para usar os pronomes com que melhor nos identificamos sem ter receio de alguém fazer pouco de nós ou de sermos gozados pelas pessoas. Os adultos do amanhã são as crianças de hoje, e essas mesmas crianças estão a ser educadas com os estigmas de ontem. Temos de mudar e lutar ainda mais para isso, para que as pessoas não tenham medo de ser quem querem ser e para que não sofram por causa disso. Está na hora de deixarmos de ensinar as coisas como se elas fossem pretas e brancas, para provar para todas as crianças e adolescentes que o mundo é melhor quando é colorido e ninguém deveria precisar de um filtro para se adequar a ele. 

 

Filipa C., a partir de uma escola secundária do interior do país