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Marsha P. Johnson (1945-1992) - a importante activista americana pela libertação dos Direitos LGBT

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Há algum tempo que desejo entender melhor a origem do Mês do Orgulho ou Pride Month. Ao fazer pesquisas aprendi um pouco sobre uma figura muito importante deste mês no qual se celebra a diversidade: Marsha P. Johnson. Muitos conhecem a sua figura, mas mais interessante é conhecer a sua história e o seu papel para o mundo LGBTQIA+.
Marsha é considerada uma mulher trans pelos historiadores da actualidade, mas no contexto em que ela vivia esta definição não era utilizada com muita frequência. Marsha descrevia-se como gay, uma travesti e drag queen. Nascida a 24 de Agosto de 1945 em Nova Jersey, filha de um operário e de uma empregada doméstica, fazia parte de uma família que frequentava a Igreja Episcopal Metodista Africana. Quando tinha cinco anos começou a experimentar vestidos e outras roupas que eram consideradas femininas e era alvo de bullying por parte das crianças que viviam perto da sua casa. As agressões afectaram-na a ponto de retrair-se e apenas sentir-se confortável para ser quem realmente era aos 17 anos quando se mudou para Nova Iorque, depois de ter acabado o secundário e trabalhado como empregada de mesa.
Quando se mudou para Greenwich, em 1966, esteve mais em contacto com o mundo LGBT. Ao fazer parte da comunidade sentiu-se mais confortável para vestir-se de forma feminina e mudou o seu nome para Marsha P. Johnson. Ao frequentar os clubes nocturnos era chamada de Black Marsha, o que a fazia sentir-se acolhida.
Apesar de haver comunidades LGBT, os seus direitos em Nova Iorque eram muito restritos entre as décadas de 1950 e 1960 e o preconceito face às minorias faziam com que as oportunidades de trabalho fossem muito escassas. Não teve outra escolha se não fazer trabalho sexual. Como as mulheres trans e travestis não eram respeitadas, Marsha sofreu vários tipos de violência, tendo sido até baleada por um dos seus clientes. Foi nessa fase que conheceu Sylvia Rivera: uma jovem trans, porto-riquenha, de 11 anos. Marsha tinha 17 anos quando se conhecerem. A amizade entre elas foi muito próxima. Sylvia recebeu apoio da sua amiga e aprendeu a aceitar-se, a utilizar maquilhagem, a vestir-se e a lutar pelos seus ideais.
Marsha e Silvia constumavam frequentar bares LGBT, sendo um deles o Stonewall Inn.
Marsha e Silvia constumavam frequentar bares LGBT, sendo um deles o Stonewall Inn, estabelecimento que era constantemente alvo de rusgas  policiais com o argumento de que as leis estavam a ser desrespeitadas, nomeadamente sobre o consumo indevido de bebidas. No dia 28 de Junho de 1969 houve uma outra invasão das forças da autoridades ao local. Marsha e Silvia chegaram pelas 2 da manhã no bar e testemunharam o acontecimento. Elas, juntamente com outras pessoas LGBT, uniram-se para defenderem os seus direitos. Aquela situação foi um pretexto para demonstrarem o seu descontentamento com a injustiça e a agressividade com as quais estavam a ser tratadas.
Elas, juntamente com outras pessoas LGBT, uniram-se para defenderem os seus direitos. Aquela situação foi um pretexto para demonstrarem o seu descontentamento com a injustiça e a agressividade com as quais estavam a ser tratadas.
O acontecimento no Stonewall Inn deu forças para que grupos LGBT organizassem a primeira Marcha de Orgulho Gay em 1970. Foram formadas outras organizações de direitos gay como Gay Liberation Front e  Gay Activist Alliance. Marsha quis participar de ambos os grupos, mas sentiu-se excluída como pessoa trans e negra. Falou abertamente sobre como sentia uma posição transfóbica por parte destes novos grupos. No mesmo ano, Marsha e Silvia decidiram fundar a Street Transvestite Action Revolutionaries (STAR), uma organização que tinha como objectivo abrigar jovens transgéneros que foram rejeitados pelas suas famílias. Com esta organização montaram uma residência onde estas pessoas poderiam ficar o tempo que necessitassem e sentir-se protegidas e acolhidas.
O acontecimento no Stonewall Inn deu forças para que grupos LGBT organizassem a primeira Marcha de Orgulho Gay em 1970.
Nos anos que se seguiram das décadas de 1970 e 1980, Marsha foi sendo cada vez mais conhecida como figura importante na luta pelos direitos LGBT. Foi modelo para uma das obras de Andy Warhol em 1975 e fazia apresentações com um grupo de Drag Queens chamado Hot Peaches. Teve tanta importância para o mundo LGBT que foi chamada para conduzir o carro da marcha do Gay Pride de New York em 1980.
       Infelizmente, apesar de ser muito conhecida, teve dificuldades em encontrar uma estabilidade financeira por culpa do preconceito e voltou a fazer trabalho sexual, sofrendo mais assédios e violência. Como resultado, Johnson sofria de crises de ansiedade e era acompanhada em psiquiatria.
Apesar de ser muito conhecida, teve dificuldades em encontrar uma estabilidade financeira por culpa do preconceito e voltou a fazer trabalho sexual, sofrendo mais assédios e violência.
     Em 1990 foi diagnosticada com VIH e falou sobre a sua saúde publicamente com o objectivo de trazer mais conhecimento e quebrar pensamentos preconceituosos e estereotipados sobre quem contraía a doença.
    A 6 de Julho de 1992, o corpo de Marsha foi encontrado no Rio Hudson em Nova Iorque. Havia suspeitas de que havia cometido suicídio, mas os seus amigos mais próximos não concordaram com esta afirmação. A comunidade encontrou muitas dificuldades para que a polícia investigasse o caso de forma mais profunda. No dia do funeral de Marsha muitas pessoas compareceram e homenagearam-na como um exemplo de luta pela comunidade.    
    Apenas em 2012 se abriu novamente o caso e a sua história foi revista. Desde então, Marsha tem sido referência para o Mês do Orgulho LGBT. Por esta razão considerei importante estudar sobre ela e compreender o seu papel neste mês que todos os anos nos relembra como a luta pelos direitos deve continuar.
 
Carolina do Nascimento Bueno, Mestre em História de Género
@historiadegenero2024 no Instagram
 
 
Referências:
 
Foto: Capa do documentário A Morte e a Vida de Marsha P. Johnson, da Netflix (Foto: Divulgação/Netflix)