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Menino ou menina: Maria José ou José Maria?

menino ou menina

– É menino ou menina?

– Mas isso importa? – é o que me apetece responder.

Eu própria ouvi essa pergunta no final da minha infância, quando não sabia lidar com o meu cabelo e preferi mantê-lo mais curto. Hoje, ouço essa pergunta novamente, embora direccionada à minha filha, que ainda desconhece que a sociedade tende a colocar os géneros em duas caixinhas, muito fechadinhas e arrumadinhas, com um laçarote rosa e outro azul, sendo que muitas pessoas aceitam e impõem esta mesma realidade.

Na infância, tinha uma voz dentro de mim que me dizia que não fazia sentido impedirem-me de praticar uma arte marcial ou de brincar com carrinhos e que não teria de furar as orelhas para mostrar, sem sombra de dúvidas, que era uma menina.

– Estás sempre de calças, porque não vestes uma saia ou pões uns lacinhos no cabelo? Esta vai ser fufa, só pode – palavras duras que magoavam, mesmo que eu não percebesse o significado, contudo, conseguia captar a entoação. Por outro lado, eu própria chamava maricas e paneleiro ao meu colega, que andava de unhas pintadas pela escola, porque toda a gente o fazia e eu acabava por desferir os mesmos golpes que desferiam em mim. Éramos crianças com palavras de adultos, imitando os comportamentos que víamos em casa.

Actualmente, visto saias, quando me apetece; amarro o cabelo ou deixo-o solto e furei as orelhas já a caminho dos 18 anos, quando me fez sentido e assim o decidi, sem permitir que alguém se impusesse e me marcasse como «menina».

Sou fufa, sim, e digo esta palavra bem alto, digo-a muitas vezes, até me parecer algo banal, porque já não se trata de uma ofensa, e ergo-a bem alto, com orgulho! Na verdade, o que me dá asco são as mensagens anónimas na minha caixa de entrada, referindo que visto a minha filha como um “menino” (seja lá o que isso for), porque somos duas mulheres lésbicas a educar uma criança, sem a empacotarmos na caixinha do género. Vestimo-la de acordo com as ocasiões, não a obrigamos a colocar ganchos no cabelo e tanto veste azul como rosa, vestidos ou calções, desde que se sinta feliz e confortável.

Reforçando este tópico, em Portugal, a discussão sobre a neutralidade do género ainda é muito subtil, por isso está na altura de trazermos o tema para o centro da mesa e educarmos as vozes que se levantam em favor ignorância.

 

Leonor Matos