Movimento LGBT começa a posicionar-se em alegados casos de violência doméstica que envolvem activistas
Um caso bicudo, este, para os movimentos LGBT portugueses e para o micro-universo activista do País: uma activista com prominência no meio acusada por duas ex-namoradas de violência física e psicológica está a obrigar as organizações a tomar decisões: remover a pessoa em questão do meio activista sem apelo nem agravo ou guardar o silêncio até que a justiça se pronuncie, mantendo-a “em funções” apesar das acusações que lhe são imputadas?
As acusações de violência física e psicológica feitas por Isabel Martinez e Mafalda Gomes a Paula Antunes em comunicado no final da semana passada deram azo, alguns dias depois, a comunicados de associações como a rede ex-aequo ou artigos de opinião como o de Daniel Cardoso do colectivo PolyPortugal.
Logo durante o passado fim-de-semana, começou a circular uma petição que exige o afastamento de Paula Antunes de organizações como a PATH – Plataforma contra a Transfobia e Homofobia de Coimbra, Comissão Organizadora da Marcha do Orgulho do Porto e Caleidoscópio LGBT, "enquanto activista em nome individual e como representante de qualquer associação, colectivo ou partido político", pode ler-se no manifesto. Há ainda um apelo a um «boicote» da parte de "associações, colectivos e partidos políticos, bem como a todos os activistas em nome individual" das marchas de Braga, de Coimbra e do Porto "caso Paula Antunes não seja afastada enquanto activista em nome individual e como representante de qualquer associação, coletivo ou partido político das suas organizações". No final da manhã de quinta-feira, a petição contava com 394 subscritores.
A tomada de posição pública das entidades relacionadas com o movimento LGBT tem sido alicerçada no apelo à subscrição desta petição, que já conta com o apoio da AMPLOS, Ação Pela Identidade - API, Actibistas, Associação ComuniDária, Associação de Estudantes da Escola Superior de Música, Artes e Espectáculo, Bichas Cobardes, O Clítoris da Razão, Lóbula, PolyPortugal, Quïruption e rede ex aequo.
"A rede ex aequo não tolera casos de agressão e defende a sua denúncia. Respeitamos o princípio da presunção de inocência até que esta seja provada mas em prol de um ambiente seguro no ativismo LGBTI em Portugal, assinamos esta petição, com carácter preventivo. Se és contra a violência doméstica, assina-a também", pode ler-se numa nota publicada na página de Facebook da organização.
A Não Te Prives - Grupo de Defesa dos Direitos Sexuais defende que "nas actuais circunstâncias e até que a justiça se pronuncie acerca deste processo, a Paula Antunes não deveria exercer as responsabilidades que assume presentemente, nomeadamente na qualidade de co-organizadora da Marcha [que ocorre a 17 de Maio]" e sugere à PATH – Plataforma contra a Transfobia e Homofobia de Coimbra, "da qual fazemos parte, que apele à Paula para que suspenda voluntariamente a sua presença como co-organizadora desta Marcha de maneira a evitar cisões no movimento LGBTI/Queer em Portugal, até que sejam apurados os factos".
O colectivo PolyPortugal "já afastou a pessoa visada de quaisquer ligações oficiais ou oficiosas com o grupo", escrevem, "até que a situação esteja esclarecida".