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Mulheridades por Babaya Samambaia "Ser mulher é um processo... é um contínuo tornar-se"

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"A ridícula ideia de nunca mais te ver".. essa frase de Rosa Montero ecoou em mim durante os últimos dias.

 

A ridícula ideia de nunca mais ME ver.. como mulher trans essa ideia é muito pulsante principalmente numa transição tardia como a minha, aos 30 anos de idade.

Ser é um constante esforço de dar espaço ao seu desejo e tornar-se a versão mais autêntica de si. E não basta existir, a luta é mais complexa: é preciso bancar intimamente e socialmente o que pulsa dentro de cada uma de nós. Ser mulher (cis ou trans) é tornar-se, como bem disse Simone de Beauvoir. É reencarnar na mesma vida. É encontrar a parte mais forte de si em tudo o que seja mutável, permeável e fluído.

"Ser mulher é.." uma frase difícil de completar pois qualquer resposta pode excluir algum tipo mulher. Assim, ao invés de definir "A" mulher, mais interessante seria falarmos DAS mulheridades. Daí, no dia da mulher fico a refletir sobre tudo o que eu vivi pelo desejo de ser lida como mulher. Quando eu comecei a fazer drag queen, me doía tirar a peruca e a makeup.  Era como se eu fosse uma mulher artificial... uma mulher de mentira.  Depois passei a me legitimar como mulher pelo interesse dos homens heterossexuais. Pronto, aí eu era mesmo uma mulher.. o outro me desejava por eu ser ELA. Porém a angústia não se resolvia com isso, pois quando esse desejo não aparecia eu também desaparecia.  Então comecei a me hormonizar e vi um corpo novo surgir de dentro para fora. Já não era a makeup, a peruca, o desejo do outro... eu brotava de dentro para fora. Resolução?  Fim da questão?  É só hormonizar e já está? Não! 

Ao invés de definir "A" mulher, mais interessante seria falarmos DAS mulheridades.

Eu entendi que ser mulher é um processo... é um contínuo tornar-se... é uma construção e uma desconstrução diária.  É um caminho incerto para dentro, sem mapas ou coordenadas, que vai dar ao encontro de si mesma. Diante disso, guerreira, é o seguinte: seja você mulher trans ou mulher cis, morra e nasça quantas vezes forem necessárias, mas renasça! Almodovar disse pela boca de Agrado num de seus filmes: "Ficámos mais autênticas quanto mais nos parecemos com aquilo que sonhamos que somos." Sonhe-se, mulher, pois "tudo o que é imaginado: tem, existe e é!"(Estamira) E viva elas. TODAS elas!

 

Babaya Samambaia

Gaya Medeiros interpreta Babaya Samambaia,  tem 30 anos, é brasileira e é mulher trans. Gaya é drag queen e coreógrafa residente do Drag Taste. Durante a pandemia, vivendo juntas na casa da avó Teresa al Dente, as Drag Taste Queens criaram a maior experiência online do mundo e o primeiro musical online interativo da história. Assim, como um grupo diverso de drags com várias nacionalidades, sexualidades e identidades de gênero, elas tem levado a arte drag portuguesa para todo o mundo,  o que pode ser visto em dragtaste.com .