O massacre de homossexuais de 1513 na América Central
A opressão contra pessoas LGBT+ tem vindo a diminuir bastante nas últimas décadas, mas tem ressurgido um contramovimento que pretende silenciar as minorias sexuais e de género. É neste contexto que é de suprema importância aprender sobre a opressão e violência praticada, nomeadamente em sociedades nas quais a homossexualidade e variações de género eram aceites. As grandes potências ocidentais cristãs e colonizadoras oprimiram com bastante violência todas as manifestações de sexualidade e género no Novo Mundo (Américas).
Muitas tribos e nações do período pré-Colombiano tinham um respeito cerimonial e papéis sociais atribuídos a homossexuais, bissexuais ou pessoas de género não-binário ou mesmo transgénero - numa acepção mais actual -, tendo termos próprios e diferentes categorizações de género. As pessoas LGBT+ eram acolhidas e reconhecidas desde a infância e iniciados na vida comunitária como líderes espirituais ou outros. Em sociedades como os aztecas, os maias, os quéchuas, os moches, os zapotecas e os tupinambás (do Brasil) era comum e aceite a presença de pessoas LGBT+. Nos anos 1990 foi criado o termo "dois-espíritos" como termo comum para agrupar os diferentes nomes e noções do espectro de género de diferentes nações indígenas na América do Norte.
Os conquistadores espanhóis ficaram horrorizados ao descobrirem que a sodomia ou homossexualidade era praticada abertamente nos povos nativos. Chamavam a esses indivíduos de berdaches (um termo pejorativo) e aplicavam-lhes pesadas penas como execuções públicas, serem queimados ou despedaçados por cães.
Um destes casos foi o massacre de homossexuais em 1512 na região do actual Panamá.
Balboa foi conquistando várias tribos pelo caminho até à descoberta do Oceano Pacífico por terra, no istmo do Panamá, e foi fazendo amizade com outras tribos, silenciando quem contra ele se revoltasse. Isto fê-lo ganhar o respeito e medo dos nativos.
O massacre foi descrito pelo historiador italiano Pietro Martire d'Anghiera na sua obra De orbe novo decades, e descreve o momento em 1512, em que Balboa lança a sua matilha de cães contra 40 nativos indígenas (pela sua aparente sodomia) para os matar. O escritor Genny Beeman acredita que isto foi uma perseguição aos nativos que fugiam ao binarismo de género, já que os nativos tomavam papéis sociais femininos, mas eram considerados "homens" à nascença.
Balboa lançando os seus cães aos nativos que praticavam homossexualidade (1594), gravura da biblioteca pública de Nova Iorque (da autoria do artista protestante flamengo Theodor de Bry).
O horror da violência praticada deve fazer-nos pensar sobre as motivações dos colonizadores. Devemos aprender com o passado e rejeitar todas as formas de opressão que atentem contra a liberdade de expressão do ser humano, neste caso, a liberdade da expressão plena da sua sexualidade e género. Devemos relembrar todos aqueles inocentes que pereceram às mãos de uma maioria opressora e sem conhecimento da variação natural da sexualidade humana.
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Rodrigo Pereira