“O que nos fez apaixonar não tem explicação. Sente-se todos os dias”
Leonor tem 53 anos. Maria Manuel tem 51. Têm vários gostos em comum, um deles é viajar. Casaram em 2013, na altura o casamento de ambas foi noticiado numa reportagem na tv e num jornal diário. A cerimónia juntou familiares e amigos e que teve um original “cão das alianças”. Conhece agora a sua história de amor:
dezanove: Quando e como se conheceram?
Conhecemo-nos no dia 26 de Maio de 2007.
Leonor: a convite de uma amiga comum fui assistir a um jogo de squash, quando cheguei fui apresentada à Maria Manuel no átrio de entrada de um clube desportivo de Lisboa. Descemos para o local dos courts e como não conhecia ninguém e a minha amiga foi jogar comecei a falar com a Maria Manuel que estava em pé à frente de um dos courts com uma placa na mão. Eu falava ininterruptamente e a Maria Manuel olhava para mim estupefacta e não me respondia... a minha amiga veio cá fora e disse 'oh Leonor não incomodes as pessoas' e eu que estava a ser super simpática não percebia nada.
Maria Manuel: Eu não podia dar muita atenção à Leonor porque estava a arbitrar uma partida de squash. Ela como não fazia ideia do que eu estava a fazer ficou com a sensação que eu não queria falar com ela. O que ela não sabia é que lhe tinha tirado uma fotografia. Só muito tempo mais tarde é que soube.
Assinalam de alguma forma a data desse aniversário?
Sim, uma vez até convidamos essa nossa amiga para um jantar.
Todos os meses celebramos a data de início de namoro que não é este dia (faz na próxima semana oito anos) e a data do nosso casamento.
O que vos fez apaixonar?
O que nos fez apaixonar não tem explicação. Sente-se todos os dias. Ainda hoje nos descobrimos diariamente
Como é a vossa relação com familiares e amigos?
Agimos com naturalidade e a nossa postura permite um bom relacionamento com familiares, amigos e até mesmo colegas de trabalho. Só este tipo de postura nos permitiu que fossem testemunhas do nosso casamento 111 amigos e familiares incluindo as nossas mães e um cão... que foi o “cão das alianças”.
Como vêem a vossa relação daqui a um ano?
Consolidada.
Já foram alvo de algum episódio de lesbofobia?
Não.
Na vossa opinião o que faz falta a Portugal no que respeita à igualdade para pessoas LGBT? A maternidade ou adopção está nos vossos planos?
Falta muita coisa ainda. O caminho está a ser feito. As “coisas estão a acontecer”, mas sabemos o quão difícil está a ser a aprovação da adopção, da co-adopção e da maternidade medicamente assistida. Destacamos a importância das intervenções na Assembleia da República e de todo o trabalho de fundo que tem vindo a ser feito pela deputada Isabel Moreira.
Há um grande trabalho a ser feito ao nível da sensibilização e educação da sociedade em geral. Realçamos o excelente trabalho que a ILGA Portugal tem feito nesta área ao nível da formação em escolas, técnicos de saúde e das forças de segurança pública.
Concordam com a ideia de que os casais de mulheres lésbicas são mais invisíveis do que os casais de homens gay? Na vossa opinião, porquê?
Sim. A “visibilidade invisível” ao nível de casais de lésbicas tem a ver com o facto da sociedade estar educada para aceitar como normal e natural duas raparigas ou mulheres andarem de braço dado ou abraçarem-se e estranha manifestações de afecto no masculino.
Têm algum projecto ou hábito que desenvolvam em conjunto?
Somos ambas voluntárias na ILGA Portugal e responsáveis pelo grupo de interesse Gir@s Caminhadas.
O que vão fazer no Dia d@s Namorad@s?
No dia 14 de Fevereiro vamos de uma qualquer forma celebrar nosso amor.
Fotos: Maria Manuel e Leonor
Entrevista de Paulo Monteiro