"Oliver Button é uma menina" de Tomie DePaola
Oliver Button é um menino igual a tantos meninos como todos fomos outrora. Dotado de uma grande sensibilidade, Oliver prefere actividades que a sociedade optou por dizer, ou impor, que seriam para meninas e não para meninos.
Apesar da insistência dos pais para que optasse por actividades “masculinas”, como jogos de bola ou de equipa, Oliver Button, desafiando as imposições de género, um dia, abordado pela mãe acerca da importância do desporto, para o seu desenvolvimento físico e psicológico, Oliver insiste que já faz desporto: saltar à corda e dançar (actividades, erradamente, atribuídas ao sexo feminino).
Desafiando de novo as imposições de género, e apesar de todo o “bullying” sofrido na escola, Oliver Button entra numa academia de dança para aprender sapateado. Os constantes ataques e ofensas por parte dos colegas, não o fazem desistir do que gosta de fazer, dançar, sendo convidado a participar num concurso de talentos.
O nosso Oliver, corajoso e persistente, ganha no concurso algo muito importante: não um prémio ou mesmo o primeiro lugar, mas o respeito e a admiração dos colegas.
Neste pequeno livro infantil, Tomie DePaola aborda de forma simples e magistral, ao mesmo tempo, um assunto que continua a dividir opiniões e que, a meu ver, deveria ser um não assunto. Tal como o herói da nossa história, também eu em criança e durante a minha adolescência sempre preferi brincar com bonecas ou dançar, ao invés de jogos de campo, que a mim me pareciam violentos e sem sentido. Ao contrário do Oliver, não fui tão forte nem tive o apoio dos meus pais, submetendo-me a contragosto às imposições de género da sociedade.
No século XXI e numa época em que a informação está acessível a todos (bem mais do que nos anos 1980’s, nos quais cresci) a sociedade continua com ideias pré concebidas de que há brincadeiras para raparigas e brincadeiras para rapazes, que o rosa é para as meninas e o azul para rapazes, com a desculpa de que agindo de forma contrária estamos a impor às crianças ideologias erradas e até, levando a discussão ao extremo, de que estamos a influenciar as crianças na descoberta da sua orientação sexual.
Uma leitura simples, mas obrigatória, para crianças e pais, sobretudo os que querem educar os seus filhos em liberdade e de forma consciente, para os preparar a enfrentar uma sociedade (ainda) tão entorpecida e vanguardista.
Ricardo Falcato