Os 125 anos de Ruth Ellis; afro-americana, lésbica e inspiradora
Incluir pessoas LGBT na história envolve conhecer a sua biografia e a sua contribuição para a igualdade de género e visibilidade das minorias. Por esta razão, considero importante celebrar o aniversário de Ruth Charlotte Ellis: mulher abertamente lésbica, afro-americana que teve uma vida longa no contexto em que viveu.
Ruth Ellis nasceu no dia 23 de Julho de 1899, em Springfield, no estado de Illinois, EUA. Era a mais nova de quatro irmãos e a única menina. Os seus pais viveram os últimos anos de escravatura no Tennessee; o seu pai foi o primeiro carteiro negro do estado de Illinois, e a sua mãe faleceu na adolescência de Ruth.
Em 1915, aos 16 anos, Ellis assumiu-se lésbica. Quanto à sua família, não sentiu necessidade de falar sobre a sua sexualidade porque eles a aceitavam exactamente como era e mostravam-se abertos e receptivos, o que foi muito positivo para ela e transmitiu-lhe muita confiança.
Em 1919, Ruth terminou o ensino secundário, algo notável, pois era muito raro uma mulher negra concluir os estudos nos EUA naquela época. Em 1920, conheceu Cecile "Babe" Franklin, que fez parte da sua vida até 1973, quando Cecile faleceu.
Em 1937, Ruth e Cecile mudaram-se para Detroit, Michigan. Ellis trabalhou como babysitter por uns meses e Franklin como cozinheira para juntarem dinheiro. Quando conseguiram ter recursos financeiros suficientes, abriram uma gráfica: Ellis & Franklin Printing Co. Ruth foi uma das primeiras mulheres afro-americanas a possuir e administrar uma gráfica na região. Os seus serviços envolviam imprimir artigos de papelaria, posters, folhetos e rifas para igrejas e empresas. Além da gráfica, o casal mantinha a casa aberta para receber pessoas da comunidade LGBTQIA+, tornando-se um ponto de encontro onde todos podiam sentir-se seguros e acolhidos. As décadas de 1940 e 1950 foram as mais movimentadas. O espaço ficou tão conhecido que começou a ser carinhosamente chamado de The Gay Spot.
Em 1960, Ruth e Cecile separaram-se de forma amigável e tranquila. Franklin mudou-se para perto do seu trabalho e Ellis foi para um centro sénior. Em 1999, Ruth Ellis foi convidada para a San Francisco Dyke March (Marcha de visibilidade lésbica realizada em Março) e celebraram o seu 100.º aniversário, reconhecendo a sua importância na comunidade LGBT. No mesmo ano, foi fundado o Ruth Ellis Center por uma equipe de defensores comunitários de Detroit. A instituição tem como objectivo oferecer serviços para jovens LGBT sem tecto ou em situação de risco.
Ruth Ellis faleceu enquanto dormia no ano de 2000, deixando um grande legado de união e apoio à comunidade.
Toda a liberdade que temos hoje é uma junção de todas as contribuições realizadas por estas pessoas que queriam um futuro mais justo e tolerante.
Introduzir Ruth Ellis na memória como alguém que contribuiu para a sociedade faz com que reconheçamos que toda a liberdade que temos hoje é uma junção de todas as contribuições realizadas por estas pessoas que queriam um futuro mais justo e tolerante, especialmente para categorias menos respeitadas e que lutam todos os dias para manter estes direitos que foram conquistados graças a estes personagens. Entender que Ruth era uma pessoa imperfeita, com defeitos e qualidades, e que apoiava a comunidade de forma voluntária com o amor que podia oferecer ao seu bairro, traz-nos a ideia de que todos nós podemos contribuir e fazer algo bom para a sociedade, por menor que seja.
Carolina do Nascimento Bueno, Mestre em História de Género
@historiadegenero2024 no Instagram
Referências:
https://www.ruthelliscenter. Fotos: Reprodução Pride Source
https://teoriadodesign.com/
https://legacyprojectchicago.