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"Os jovens mudaram e a rede ex aequo também está em mudança"

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Em Junho de 2006, com 16 anos, fiz uma pesquisa sobre um livro de temática trans que tinha interesse em ler e sem querer encontrei o site da rede ex aequo. O primeiro contacto que tive com esta associação foi através do fórum online, como tantas outras pessoas, onde se debate sobre uma imensidão de questões relacionadas com a orientação sexual e a identidade e expressão de género. Nunca tinha tido acesso a tal informação, nem na escola nem em casa. Ou melhor, ouvia alguns insultos a voarem. Algo está errado quando uma jovem fica a saber o que é uma fufa antes de lhe ser ensinado o que é uma lésbica.

 

Por não ter tido contacto com esta informação, em todo o meu percurso escolar, quis proporcioná-la de forma esclarecida ao invés de a deixar à responsabilidade de docentes sem formação para tal e que poderiam perpetuá-la de forma incorreta e preconceituosa. O bichinho activista já se estava a manifestar.

Juntei-me ao Projecto Educação que dinamiza sessões de esclarecimento sobre orientação sexual e identidade e expressão de género em contexto escolar, com o objectivo de tornar a escola mais inclusiva e combater o bullying, em todas as suas formas. A visibilidade põe em causa o insulto.

Durante muitos anos fiz estas sessões, andei de norte a sul do país e pelas ilhas e pude aperceber-me de uma mudança, de uma actualização de conteúdos e de opiniões. Hoje quando nos deslocamos a uma escola já não nos perguntam o que é um gay, perguntam-nos o que é um pansexual ou uma pessoa de género não-binário. Efectivamente o acesso à informação está muito diferente de há 10 anos.

A sociedade vai estando cada vez mais esclarecida ainda que por vezes a sua desinformação seja gritante. Vamo-nos apercebendo que esta evolução está a acontecer e tem que continuar. Nós queremos fazer parte desta evolução. Adaptamo-nos por isso à nova realidade LGBTI em Portugal.

A juventude está cada vez mais presa a uma situação precária. Quando vivemos com os pais e/ou mães nem sempre temos a liberdade para afirmarmos a nossa identidade e/ou expressão. A precariedade a que nos sujeitam atrasa este processo porque não temos a independência financeira que nos traz a segurança que precisamos para sair dos armários. Resta-nos capacitar estes jovens com ferramentas para lidar com esta nova situação. Outra acção, necessária tão hoje como sempre, é o combate ao isolamento. Encontramos informação numa série de plataformas e aplicações em diferentes formatos, no entanto o convívio e a partilha entre pares continua a ser uma necessidade da juventude. Os Grupos Locais, asseguram em várias cidades este contacto e quebra de isolamento.

Muita coisa mudou, os jovens mudaram e a rede ex aequo também está em  mudança. Providenciar um espaço seguro muitas vezes vinha acompanhado da ideia de um espaço conservador. Finalmente reconhecemos a diversidade de expressões e identidades de género, com um esforço claro para adaptar a linguagem de modo a reconhecer estas pessoas e diferentes orientações sexuais e relacionais. Não reconhecemos nenhuma como mais válida, admitimos que existem e todas têm lugar na rede ex aequo. Não há tabus nem temas que não queiramos abordar e até aprender mais sobre.

Cada vez mais temos uma voz política, activa de reivindicação de direitos, como por exemplo pelo acesso à PrEP e por uma nova Lei de Identidade de Género que reconheça a nossa vontade e não a dos nossos médicos.

Temos nas nossas formações e actividades lúdicas, como por exemplo o Acampamento de Verão – que acontece na última semana de Agosto, blocos para abordarmos a sexualidade e afectos, desde as mais variadas práticas sexuais, às mais variadas formas de protecção. Apercebemo-nos que temos uma responsabilidade para informar também sobre as ISTs e o VIH. Esta consciencialização não deve ser feita com recurso ao medo e culpabilização do sexo mas sim à informação despreconceituosa sobre práticas sexuais protegidas. A crescente procura dos jovens a aplicações de encontros e sexo foi acompanhada da nossa preocupação para que estes o fizessem de forma segura. É um novo desafio para a rede ex aequo.

Há projectos e actividades, existentes desde a génese da rede ex aequo, que vão deixando de fazer sentido. Deixam de ser funcionais. Já passaram 13 anos e houve uma série de reconhecimentos legais e históricos que nos trouxeram até aqui. É sinal de evolução reformular e criar novos projectos, e a aversão à mudança como sabemos só atrapalha. Ainda assim, juntamente com a minha equipa, trabalho todos os dias com a esperança de tudo o que faço deixe de fazer sentido. Eu quero que a rede ex aequo deixe de ser necessária. Enquanto precisarmos de existir, cá estaremos.  

Celebramos hoje o 13º aniversário e juntamos a festa de aniversário que irá decorrer no próximo Sábado, dia 9 no espaço associativo Mob, ao 12º ciclo de cinema LGBTI de sexta a domingo na FCSH/NOVA. Serão exibidos três filmes e o documentário intersexion que aborda a temática intersexo, à qual a rede ex aequo tem vindo a dar visibilidade nos últimos dois anos.

Esperamos ver-vos em ambos os eventos, já que são de entrada gratuita para qualquer pessoa e já que há bolo e espumante.

 

Cátia Figueiredo

Presidente da Direção da rede ex aequo

Oradora e coordenadora do Projecto Educação LGBTI

 

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