Oscar Wilde para (re)descobrir em “O Beijo de Judas”
“O Beijo de Judas”, do dramaturgo inglês David Hare e com encenação de Carlos Avilez, merece a nossa atenção.
Nesta peça, David Hare explora dois incidentes na vida de Oscar Wilde, dos quais pouco sabemos - nomeadamente o dia em que decide ficar em Londres e ser preso; e a ocasião, dois anos depois, em que o seu amante, Bosie, o abandona em Nápoles - para criar um texto que o dramaturgo diz ser sobre amor e traição.
No contexto da peça, conclui-se que Oscar Wilde foi no seu tempo um homem de uma enorme coragem e coerência e por outro lado, em oposição, Bosie, nunca esteve à sua altura e sempre dele se aproveitou. Wilde é um génio, sendo depois de Shakespeare o autor inglês mais lido e a sua vida um exemplo, muito antes do tempo, de como encarar a homossexualidade publicamente.
Em 2017, Oscar Wilde recebeu um perdão póstumo pela sua condenação por indecência flagrante de 1895. Mas não deveria haver nada a perdoar. Deveria, sim, haver um pedido de desculpas, a ele e a todos aqueles e aquelas que foram presos apenas por serem gays.
Sobre a peça, de referir que a interpretação é excelente, principalmente dos três principais personagens, Tadeu Faustino, como Robbie, João Gaspar como Bosie, e excepcional o desempenho de Renato Godinho, como Oscar Willde. Uma peça a não perder, de quarta a sábado às 21h e aos domingos às 16h, no Teatro Municipal Mirita Casimiro até 5 de Maio.
João Roque