Porque nos incomoda tanto ver um homem com tinta nas unhas?
Gostava muito que não tivéssemos de falar sobre isto em 2021.
Pintar as unhas não define o género, a orientação sexual, ou nada mais acerca da pessoa que as usa pintadas. Mesmo que definisse, isso não atribuía a ninguém o direito de julgar outra pessoa e de limitar o seu acesso a formação, a emprego, etc.
Pintar as unhas é… para quem quer pintar as unhas. Não tem de ser em nome uma causa, nem porque se tem uma identidade mais queer, e definitivamente não tem de se ter uma vu!va para se pintar as unhas. Regra geral, nem é com os genitais que se pintam as unhas 

Este caso do aluno de Ponta Delgada abana-nos e inquieta-nos e lembra-nos que a igualdade e o respeito pela diversidade está longe de estar consolidado e garantido.
Este caso é um bom exemplo de como se manifesta a repressão de rapazes e a reprodução de modelos de masculinidade tóxica. E acredito mesmo que, na história de cada homem visceralmente incomodado com umas unhas pintadas num outro homem, está um rapaz que cresceu a ser constantemente lembrado - por homens e mulheres - de que tinha de comportar de uma determinada forma para ser considerado um homem a sério.
Mesmo eu, que até penso bastante sobre estas coisas, dei por mim a hesitar se aderia ou não a este apelo à acção e se pintar as unhas não seria ir longe demais. Revi mentalmente se isto não poderia ter um impacto nas minhas relações com a minha família alargada, com o meu emprego, se poderia trazer-me problemas, se me colocaria numa situação menos segura - a falta de segurança que tantas vezes senti, na infância e adolescência, quando escolhia fazer algo que não coincidia com o que era esperado de um rapaz. Frequentemente, a sociedade fazia questão de “me lembrar” de que eu estava a ir longe demais.
Vamos mudar isso? #unhassemgenero
Mário Santos