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"Quando é dos casamentos homossexuais, não deixo"

Hugo Melo opinião.jpg

É sexta-feira. Não é um dia muito habitual para casamentos, mas por necessidade dos noivos tem que ser, até porque há que aproveitar o fim-de-semana prolongado para fazer uma mini lua-de-mel.

À hora marcada chegam à conservatória os convidados, os noivos e os padrinhos. Sente-se o nervoso habitual numa situação destas e há sempre um convidado que está atrasado e não sabe onde é.
Sabida a sala onde se vai celebrar a cerimónia, descemos as escadas e começamos a instalar-nos na sala. O fotógrafo oferece os seus serviços profissionais os quais são aceites pelo noivo, primeiro com alguma relutância, mas depois rendendo-se à evidência de que uma boa memória tem de ser registada por um bom profissional.
Passados uns minutos, chega o conservador do Registo Civil de Lisboa, Dr. Rogério de Carvalho, já muito bem conhecido pelos noivos, instala-se e dá início à cerimónia. O que se passa de seguida já é do conhecimento de todos, com uma ou outra nuance, que muda consoante o conservador: são apresentados os noivos em voz alta, através dos respectivos nomes, filiação, moradas entre outros dados pessoais e feitas as declarações relacionadas.
O ambiente é sempre descontraído e de algum humor, tanto da parte do conservador como dos noivos e dos convidados. Não havendo impedimentos, celebra-se o casamento. São explicadas aos noivos as condições do contrato que é o casamento e são feitas as recomendações relacionadas.
Já no final da cerimónia, após confirmar que querem efectivamente casar um com o outro, os noivos são declarados unidos pelo casamento e todos os seus dados são novamente confirmados. Termina aqui a parte legal.
Após uma brincadeira do noivo, uma das testemunhas pergunta ao conservador se já não há o beijo à noiva, ao que o conservador responde, em tom de brincadeira, que não é ele que o vai dar, enquanto o noivo beija a noiva. O conservador coloca inclusive a hipótese dos noivos não quererem. O que se passa de seguida é que já seria totalmente dispensável. O conservador profere declarações completamente homofóbicas e xenófobas que chocam e indignam todos os presentes. Cito: "E eu, por exemplo, quando é dos casamentos homossexuais, não deixo", ao que madrinha contesta "ah, mas (...) não é muito bem, desculpe lá.... E o conservador "Como?" obtendo como resposta da madrinha: "Eu acho que também devia deixar", mas o conservador inquire: "Por quê?" e sem deixar responder diz, já sério: "Minha Senhora, beijem-se (onde) quiserem! Tenho alguma coisa a ver com isso? E também não lhes dou os parabéns. E não os cumprimento porque tenho nojo das mãos deles." E continua por aí fora a manifestar as suas dúvidas em relação aos casamentos de pessoas do mesmo sexo. Não satisfeito por demonstrar em serviço a sua inexplicável homofobia, iniciam as declarações xenófobas: "Já casei os brasileiros todos. (...) Porque é que as brasileiras vêm casar com os portugueses?". Dá os parabéns aos noivos e vai-se embora.
O convidado atrasado acaba de chegar, ainda veio a tempo da celebração!
De referir, por último, que a noiva é brasileira, o noivo português e quem escreveu esta crónica é homossexual e pretende casar-se, mas bem longe do Dr. Rogério de Carvalho.

Evidentemente depois deste episódio foi apresentada queixa formal às entidades competentes.

 

Hugo Melo,  Informático, Mestrando em Informática e Gestão no ISCTE-IUL.

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