Queer em Lisboa: Histórias de vida de mulheres queer em Portugal
Queer em Lisboa. Não confundir com Queer Lisboa, o festival. Aqui a arte é outra. Falamos do projecto artístico de fotografia e testemunhos da autoria de Magda Moutinho e que pretende dar visibilidade às mulheres queer na nossa sociedade. Magda define-se como uma mulher hedonista, mas consciente. Vive em Lisboa, estuda Enfermagem e é fotógrafa e DJ.
dezanove: Quando nasceu e porquê a necessidade de criar o Queer em Lisboa?
Magda Moutinho: Sou apaixonada por imagens e não lido bem com o pré-julgamento e, consequentemente, injustiças. Desta forma, aliei as duas coisas: através de uma ideia simples, tento combater o preconceito (neste caso, o preconceito que a mulher que se insere na comunidade LGBT sofre) através de fotografias. E assim nasce o Queer em Lisboa no início de 2014.
Porquê a aposta nas mulheres queer?
Invisto nas mulheres queer porque me insiro no grupo, por isso conheço o preconceito de uma forma real. Não me poderia dedicar de forma fiel e honesta a este projecto se não conhecesse bem a base que lhe dá origem.
Continuam a ser as mulheres queer um elemento invisível e discriminado dentro da sociedade portuguesa?
É uma questão delicada. Antes de importar falar da mulher queer, importa falar da mulher e nas desigualdades que ainda existem na sociedade. Mas isso deixamos para uma próxima entrevista (estou a sorrir e a piscar o olho).
O teu projecto dilui-se entre fotos e textos. Estas vertentes complementam-se e fazem frente à primeira impressão (quiçá incompleta) que uma imagem transmite?
Este projecto é exigente mas fluido e despretensioso, sem falsas modéstias. Ou seja, tem estado receptivo a coisas novas. E assim é. No início, a minha ideia era expor somente fotografias, mostrando a diversidade que existe dentro do grupo de mulheres queer. Algum tempo depois, percebi que também há diversidade nos percursos de vida, nas histórias de cada mulher, e isso também me interessa muitíssimo e enriquece o Queer em Lisboa.
Quantas mulheres já entrevistaste?
Já me reuni com cerca de 40 mulheres e, como disse antes, as histórias de vida fascinam-me. Tenho tido o privilégio de conhecer percursos diferentes e que abordam pontos muito importantes (por exemplo, a mulher homossexual com filhos de um casamento anterior heterossexual, a impossibilidade de se ser honesta em relação à orientação sexual por medo de represálias no trabalho, na família, entre pares).
Há alguma entrevista que te tenha marcado particularmente?
Indo ao encontro da fluidez do projecto, aconteceu algo incrível: já tinham passado vários meses depois da criação do Queer em Lisboa e conheci uma mulher transgénero. Este encontro fez-me pensar imenso sobre o que é Ser Mulher. Acabei por fotografá-la e recolher a sua história. Para além do projecto ter crescido, eu própria cresci. Muito.
Pensas alargar o leque e entrevistar no futuro homens queer?
Sim, é uma possibilidade.
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Paulo Monteiro