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Com um Novo Ano a começar é inevitável reflectirmos sobre todos os  acontecimentos que se passaram ou as decisões que tomamos no último ano. As  reuniões familiares também ajudam a pensar no nosso percurso ao longo do ano,  e comparar como estávamos há um ano e como estamos agora. 

Penso que no fundo quero dar uma palavra de apoio para aqueles a quem esta  temporada pode ter sido complicada. Para quem se sente melancólico, para  quem perdeu alguém no ano passado, para quem se sente sozinho e/ou  deprimido, para quem teve um ano difícil.  

Falo por experiência própria quando refiro o ano difícil. Vou ser dramática, ao  afirmar que este foi o pior ano da minha vida. Tive várias perdas a nível pessoal.  Houve momentos que achei que não iria sobreviver. Quis muitas vezes desistir e  atirar a toalha ao chão. Vi-me obrigada a fazer uma escolha. Ou usava esta dor  para crescer ou deixava que ela me fragmentasse. Inconscientemente, digo eu,  escolhi a primeira opção. Levei e levo um dia de cada vez. Permito-me sentir as  dores, as saudades, a tristeza e depois sigo em frente. A “healing journey” ou  jornada de cura em português, não é um caminho linear nem finito. Leiam  novamente a última frase. O processo de recuperação é um percurso de altos e  baixos. Por vezes sentimos que estamos bem, super bem, recuperados, fortes.  Contudo deparamo-nos com um gatilho e caímos no “baixo”. O tempo e o quão  baixo cais é o que determina se evoluíste neste processo. É certo que há quedas  mais complexas que outras. Podemos enfrentar algumas dificuldades com o que  a vida nos atira. Por essa razão, temos de saber quando pedir ajuda.  

É certo que há quedas  mais complexas que outras. Podemos enfrentar algumas dificuldades com o que  a vida nos atira. Por essa razão, temos de saber quando pedir ajuda.  

Sei que pode ser um problema para certas pessoas, “dar o braço a torcer”. Perceber que sozinhas não conseguem superar os obstáculos. Admitir que não  conseguem fazer tudo sozinhos. Não é nenhuma vergonha admitir isto. Não tem  de haver este sentimento por reconhecermos que precisamos de ajuda, ou até  quantas vezes caímos. Se vos dissesse quantas vezes cai e tive de subir essa  montanha este ano, ficariam boquiabertos. Uma coisa partilho, que foi com ajuda  de terapia, prática que mantenho há quase dois anos, e uma rede de apoio, que  consegui chegar aos “altos”. É uma mão invisível que te puxa do buraco onde estás. No entanto, o verdadeiro trabalho está em ti. Está no crescimento e na auto-descoberta que queres praticar. Mas o que é isto em termos práticos? Pode  ser várias coisas e depende do teu nível de empenho e de angústia. Se sentes por  exemplo que estás estagnado no teu trabalho, procura actividades que te possam abrir horizontes ou que possas saltar de onde estás para algo em que te 

enquadres. Eu sei, falar é fácil. Acreditem que ouvi muitas opiniões, e o que eu  retirava era “falar é fácil”! Tem de ser por pequenos passos. Por exemplo, eu dizia  muitas vezes que gostava de voltar a praticar ioga, mas nunca começava. “Não  tenho tempo ou dinheiro”, dizia eu. Algo que ouvi na terapia e não só, foi “foca-te  em ti”, “foca-te no teu bem-estar”. Acho que foi essa a deixa que me levou a  inscrever-me no ioga e pilates. Organizei melhor o meu tempo, e abdiquei de  certas coisas para suportar esse custo monetário. Quando fazemos uma escolha,  há sempre uma consequência. Ao optarmos por algo, abdicamos da outra  hipótese, é o que a minha terapeuta me refere várias vezes. Temos de estar  conscientes dessa escolha. 

Escrever para o dezanove.pt foi outra decisão que tomei. Uma amiga minha que  também escreve (e aproveito para recomendar os artigos dela – Maria Raposo), já  me tinha mencionado experimentar, ainda assim adiei porque não sabia por onde  começar. Até que tive um acontecimento que me fez repensar a minha vida e o  meu bem-estar, o que me levou a fazer escolhas que me ajudassem a focar em  mim. O meu crescimento pessoal e auto-descoberta passou por colocar em  prática tudo aquilo que deixei em suspenso. Inscrevi-me no ioga e pilates,  comecei a escrever para o dezanove.pt, aventurei-me no mundo da tatuagem, voltei  a ler e a desenhar, decidi passar mais tempo com as minhas amigas, inclusive  fomos de férias pela primeira vez. Desafiei-me também a fazer actividades  diferentes e sozinha. Não tem noção de quão empoderador pode ser fazermos  coisas sozinhos. Pode ser duro para quem não está habituado, mas eu sabia que  já tinha este hábito, e que conseguia voltar a ele. A sensação de independência e  força que nos transmite é incrível. Às vezes, coisas básicas como ir ao mecânico  por exemplo, pode dar-nos a sensação de que conseguimos resolver o que quer  que seja. É certo que a vida coloca obstáculos no nosso percurso, uns mais  difíceis que outros, mas cabe a cada um de nós escolher como vamos deixar que  nos afecte.  

Voltamos ao tema das escolhas, não é? Quando há certos eventos na nossa vida  que não podemos mudar, temos de optar de como isto vai nos impactar. É a única  coisa que temos controlo sobre. A forma como lidamos com as adversidades da  vida. A forma como nos afecta e como podemos usar isso a nosso favor. A forma  como cuidamos de nós próprios nessas fases.  

Houve muitas alturas em que preferi estar sozinha, mais recolhida. Porque apesar  de todas estas opções que decidi meter em prática, há momentos que temos de  nos “sentar” com os nossos sentimentos e permitir sentir essa onda. Permitir  sentir seja o que for, tristeza, raiva, confusão, rejeição, desilusão, medo, culpa….  Só tu podes validar o que sentes. Se fores como eu, sinto muitas vezes que  preciso de validação externa em muitos temas da minha vida. Ao estar mais consciente do que sinto, percebo que não preciso de validação de ninguém para  sentir seja o que for. Assim, sei que consigo regular como me sinto e o que  preciso. Exemplo, alguém decide importunar-me no trabalho, a minha reacção era  ficar chateada e contar as minhas amigas, dessa forma entrava no loop de “odeio  o meu trabalho”. Actualmente, paro e deixo ficar a “marinar” a minha reacção, e só  depois reajo, mas não deixo que aquele momento menos feliz, estrague o meu dia  como deixava dantes. Isto é apenas um exemplo prático de uma forma de regular  e controlar o nosso sistema nervoso. Parar e respirar. 

No entanto, ainda tenho muito para caminhar, não sou a pessoa mais consciente  do mundo, mas este ano ensinou-me alias, a dor ensinou-me. Através dela, nós  seres humanos aprendemos e crescemos. Como referi a “healing journey” não é  um caminho linear nem finito. Estou orgulhosa da minha evolução este ano, e de  saber que não preciso que ninguém valide todo o meu crescimento, mas como é óbvio que, ouvir a minha terapeuta referir esta aprendizagem, é bom para o meu  ego. 

No fundo, depende de ti. Do caminho que estás disposto a fazer. E podes ter todas  as ajudas, mas és tu que regula como te sentes e o teu consciente/inconsciente. Pode acontecer algo, mas és tu que escolhes a maneira como isso te afecta e como  podes usar isso a teu favor. É na adversidade que vemos a nossa verdadeira força.

 

Sara Correia