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Relacionamentos queer: modelos fora da norma, com saúde emocional

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Durante muito tempo fomos ensinados a acreditar que o amor só podia existir  dentro de um molde muito específico: duas pessoas, exclusividade sexual e  emocional, para sempre. Mas quem vive fora da norma — seja em identidade,  orientação, corpo ou forma de amar — sabe que nem sempre esse modelo  encaixa. E está tudo bem com isso. 

Hoje falamos cada vez mais de outras formas de viver os afectos, com mais  liberdade, consciência e autenticidade. Mas com essa liberdade também surgem  desafios.  

 

O que são relações fora da norma? 

Estamos a falar de qualquer relação que não siga o padrão da monogamia tradicional, ou seja, aquela que se baseia na exclusividade sexual e afectiva entre  duas pessoas, com um ideal de estabilidade e permanência ao longo do tempo. 

Estas formas “fora da norma” não são novas, mas têm ganho mais visibilidade e  reconhecimento, em grande parte por serem reivindicadas dentro da comunidade  LGBTQIA+, que historicamente tem desafiado modelos impostos de género,  sexualidade e afecto. 

Aqui ficam alguns dos modelos mais reconhecidos: 

Relacionamentos abertos - Há um vínculo afectivo central, mas existe abertura  para envolvimentos sexuais com outras pessoas. Estes envolvimentos podem ser  esporádicos, com ou sem envolvimento emocional, e com regras definidas entre o  casal. 

Poliamor - Envolve múltiplas relações afectivas e/ou sexuais, com consentimento  e conhecimento mútuo entre todas as partes. Ao contrário do estereótipo, o  poliamor não é sinónimo de promiscuidade: trata-se de viver o amor de forma  ética e consensual com mais do que uma pessoa. 

Relacionamentos não hierárquicos - Todas as relações envolvidas têm igual  importância. Não há uma “relação principal” e todas as conexões são  consideradas válidas e completas em si mesmas.  

Relacionamentos anárquicos (Anarquia relacional) - Recusa a ideia de que uma  relação romântica ou sexual deve ter prioridade sobre amizades ou outros 

vínculos. Aqui, não existem normas pré-estabelecidas: cada relação é construída  de forma única, sem hierarquias e sem rótulos fixos. 

Relacionamentos monoafectivos não monogâmicos - São relações em que a  exclusividade emocional é mantida (só se ama uma pessoa), mas a exclusividade  sexual não. Esta distinção é importante para pessoas que fazem separação entre  afeto e sexo, e que desejam explorar o erótico fora da relação, mantendo o vínculo  amoroso exclusivo. 

Relacionamentos com vínculo queerplatónico - São relações que transcendem  a amizade e o romance, podendo incluir compromisso, vida em comum e até  criação conjunta de filhos — mas sem o componente sexual ou romântico. Muitas  vezes surgem entre pessoas assexuais, arromânticas ou que rejeitam os modelos convencionais de relação. 

Relações flexíveis ou híbridas - Aqui entra tudo o que é criado fora das caixinhas  — acordos abertos de forma pontual, relações com exclusividade emocional mas  abertura ocasional, trios consensuais, redes afetivas específicas, etc. O  importante é que haja acordo, ética e comunicação

Importante: 

  • Nenhum modelo é “superior” a outro. O que importa é que a relação seja  consentida, saudável e satisfatória para todas as pessoas envolvidas. 
  • Relações não monogâmicas não são desculpa para trair, manipular ou  negligenciar sentimentos
  • Todas as formas de relação têm desafios — e todas podem ser vividas com  saúde emocional, se forem cuidadas com respeito, escuta e compromisso. 

 

Mas... e a saúde mental no meio disto tudo? 

Nem sempre é fácil. Muita gente romantiza os modelos não monogâmicos como  se fossem automaticamente mais evoluídos ou sem dor — e isso também é uma  armadilha. 

Numa relação aberta ou poliamorosa, os sentimentos continuam a existir: ciúme,  insegurança, medo da rejeição, sensação de não ser suficiente. E sim, há  quem use o “modelo aberto” para fugir da intimidade ou como desculpa para não  cuidar do outro — tal como também há quem use a monogamia como controlo. 

O importante aqui é sabermos que não há uma forma certa de amar — mas há  formas mais saudáveis de o fazer, qualquer que seja o modelo escolhido.

 

5 pilares para manter a saúde emocional em relações fora da norma

   1. Comunicação radical (e real) 

Mais do que falar muito, é preciso falar bem. Abrir o espaço para conversas  desconfortáveis: o que te dói? O que te faz sentir insegure? Como queres ser  cuidade? Quais os teus limites? 

A comunicação é a ponte entre o desejo e o respeito. 

  1. Consentimento consciente e contínuo 

Não basta dizer “sim” uma vez. As regras, desejos e limites podem mudar com o  tempo. Relacionamentos saudáveis são vivos — precisam de ser revistos,  afinados e cuidados. 

  1. Gestão emocional (e não controlo emocional) 

O ciúme, por exemplo, não precisa de ser um vilão — pode ser um sinal de algo  que precisa de atenção. O segredo está em ouvir a emoção, não em agir  impulsivamente sobre ela. A terapia ajuda muito aqui. 

  1. Espaço para autonomia e identidade 

Em relações com várias pessoas, é fácil perder-se em agendas, afazeres,  combinações. Mas ninguém é só "namorade de" ou "metade de um trio". Ter  tempo a sós, cultivar interesses próprios e cuidar da individualidade é essencial. 

  1. Rede de apoio 

Relações fora da norma ainda enfrentam julgamento social — mesmo dentro da  própria comunidade. Ter amizades seguras, espaços de escuta e, se possível, um  terapeuta que entenda estas dinâmicas pode fazer toda a diferença. 

 

Procura o relacionamento que te faz bem 

É normal duvidar, mudar de ideia, falhar, aprender. Nenhuma forma de relação te  protege da vulnerabilidade — mas todas podem ser vividas com respeito,  presença e afecto. O mais importante é que haja acordo, cuidado e liberdade. E  que tu te sintas inteire, não metade de nada. 

Seja em trio, em rede, a solo, com vínculos múltiplos ou num amor a dois — o teu  bem-estar emocional deve estar sempre no centro.

 

Letícia David,  Psicóloga

 

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