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“Resgatámos mais de 150 pessoas da Tchetchénia”

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A semana noticiosa começou com uma nova denúncia internacional sobre a violação de Direitos Humanos na Tchetchénia. Segundo activistas da Rede LGBT da Rússia cerca de 40 homossexuais foram detidos e torturados e pelo menos duas pessoas acabaram por morrer naquela república do Cáucaso.

O dezanove.pt conseguiu falar com um porta-voz da Rede LGBT Russa, que por razões óbvias não pode ser identificado, para falar desta aparente nova vaga de perseguições contra as pessoas LGBT. As respostas desta entrevista são um alerta não pode passar despercebido à comunidade internacional.

 

 

dezanove.pt: Na primeira denúncia há cerca de dois anos algumas vozes vieram a público afirmar que a história dos “campos de concentração” não era verdade. Como reagiram a isso? Que provas têm sobre as denúncias que fizeram na altura?

Porta-voz Rede LGBT Rússia: Em primeiro lugar, pedimos para não chamar os lugares onde as pessoas estão detidas de “campos de concentração”. “Campos de concentração” é um termo que existe num contexto histórico muito preciso. Nós entendemos as semelhanças, mas gostaríamos de pedir que se usasse “prisões ilegais” ou “prisões secretas”.

Respondendo à questão, as autoridades russas afirmam, a todos os níveis, que não há perseguição às pessoas LGBT na Tchetchénia, e até mesmo que haja sequer pessoas LGBT na Tchetchénia. É esta a posição oficial do Kremlin e de Grozny expressa por muitos funcionários do Estado. No entanto, existem provas. Nós resgatámos mais de 150 pessoas da Tchetchénia: elas são as testemunhas deste crime. Além disto, houve uma investigação conduzida pelo especialista da OSCE (Organização para a Segurança e Cooperação na Europa) que concluiu que as pessoas LGBT na Tchetchénia são perseguidas por causa da sua orientação sexual ou identidade de género. Nós achamos tudo isto convincente.

 

Os ataques a pessoas LGBTI na Tchetchénia têm sido continuados. O que vos levou a esta segunda denúncia pública internacional? 

Simplesmente ainda não sabemos a resposta em concreto a esta questão. Nós só podemos deduzir. As informações sobre esta nova purga foram verificadas recentemente e estamos agora a recolher mais informações. Mas parece-nos que não houve uma ordem direta vinda de cima para intensificar as perseguições. O que terá desencadeado esta situação é que, em algum momento, uma determinada pessoa foi detida - sabemos que as detenções nunca pararam - essa pessoa tinha muitos contatos... e foi assim que o assunto recomeçou a ser falado.

 

Como vos chegam os relatos das situações de discriminação, violências e até mortes que estão a acontecer nessa república da Tchechénia? Conseguem quantificar os casos das vítimas na Tchechénia até à data de hoje?

É impossível dizer com exactamente quantas pessoas sofreram desta vez ou quantas pessoas no total se tornaram vítimas desde a primeira onda de ataques. A fim de fornecer números claros, deve haver uma investigação adequada deste caso – algo que nunca aconteceu na Rússia. Todas as informações que recebemos são de pessoas na Tchechénia ou dos seus amigos ou parentes ou de pessoas que já deixaram a Tchechénia. Verificamos sempre todas as informações que nos chegam. Tudo isto leva tempo e é por isso que publicamos as primeiras informações apenas esta semana, apesar de termos recebido os primeiros rumores no final de Dezembro de 2018.

 

"Deve haver uma investigação adequada deste caso – algo que nunca aconteceu na Rússia"

 

Têm algum tipo de apoio das autoridades de Moscovo ou a vossa missão é apenas auxiliada (financeiramente e de outras formas) via exterior? Recebem algum tipo de apoio de ONGs internacionais? 

Não recebemos qualquer tipo de apoio das autoridades russas. Além disso, a Rússia não cumpre seu principal dever como Estado - proteger os seus cidadãos. Não houve uma investigação transparente da situação na Tchechénia; a Rússia não permitiu que o especialista da OSCE entrasse no país e conduzisse a sua própria investigação. No entanto, o apoio de várias ONGs, organizações e pessoas de todo o mundo foi imenso. Nós não poderíamos salvar tantas vidas sem esses apoios.

 

De que forma conseguem fazer com que essas pessoas LGBTI que fogem da Tchechénia possam prosseguir a sua vida noutro local da Rússia ou noutros países? Quantas pessoas já ajudaram? 

Um dos principais objectivos do nosso trabalho é garantir que quem sofre nesta cruzada contra os LGBT na Tchechénia possa sair da Rússia. Porque, para a maioria deles, permanecer no país é mortalmente perigoso. Desde Abril de 2017, evacuamos cerca de 150 pessoas da Rússia, mais de 130 já encontraram um santuário, um refúgio no exterior.

 

O que é que uma pessoa que está a ler esta entrevista pode fazer em concreto para ajudar esta causa?

Acreditamos que foi a pressão internacional e atenção de pessoas em todo o mundo que interromperam a onda de ódio que estava a varrer a Tchetchénia da última vez. Precisamos dessa força internacional novamente. Pedimos a todos que partilhem informações, protestem, exijam respostas aos seus governos sobre estes crimes contra a humanidade e exijam saber por que razão não foram interrompidos. E, claro, pedimos para nos continuem a apoiar financeiramente para podermos prosseguir com o nosso trabalho.

 

"Pedimos a todos que partilhem informações, protestem, exijam respostas aos seus governos sobre estes crimes contra a humanidade e exijam saber por que razão não foram interrompidos."

 

 

Entrevista conduzida por Paulo Monteiro

Agradecimentos: All Out

 

A All Out acaba de lançar uma campanha (go.allout.org/en/a/chechnya-2019/) em que pede aos líderes mundiais que vão estar presentes no Fórum Económico Mundial que tomem uma posição contra os novos ataques às pessoas LGBT+ na Tchechénia.

Além da petição (https://go.allout.org/en/a/chechnya-2019) também está disponível uma campanha de angariação de fundos (https://go.allout.org/en/a/chechnya-donate).