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Sara Martinho: "É importante falar de Hillary"

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"I know we have still not shattered that highest and hardest glass ceiling, but someday, someone will, and hopefully sooner than we might think right now." — Hillary Clinton

 

Hillary, com H grande

Hillary Diane Rodham, porque o apelido Clinton chegou mais tarde. Diz-se que cinco anos depois de ter casado e apenas pelas questões relacionadas com a estabilidade do seu casamento com Bill, entenda-se, junto de algum eleitorado. O de sempre, já se sabe.

 

É importante falar de Hillary. Agora, mais que nunca. É importante reconhecer que o que conquistou, mesmo sem vencer as eleições presidenciais, veio mudar o “sistema” — o mesmo sistema que continuamente lhe é apontado, tendo em vista a sua fragilização. É importante ter em mente que Hillary teve mais 300 mil votos que o seu oponente e que foi ela a vencedora. Mesmo que não lhe seja atribuída a vitória, teve mais votos de eleitores. My dear,  Madam President...  

Goste-se ou não, Hillary foi provavelmente a candidata mais qualificada e experiente de todos os seus antecessores na corrida à Casa Branca. Falamos de qualificações e experiência para o cargo de Presidente dos EUA. Horas de voo, cateterismos, trabalho árduo e diário. Sobreviveu, erguida, ao escrutínio público durante mais de trinta anos. E, ainda assim, a sua intervenção política é frequentemente esmagada, humilhada e diminuída pelo facto de ser mulher. E porque a desigualdade de género é um problema real.

O seu contributo político foi, ao longo de várias décadas, notoriamente participativo e activo. Hillary possui uma capacidade de resiliência de fazer inveja, e uma personalidade tenaz e assertiva. Mas, acima de tudo, é uma mulher orientada para o trabalho e para o bem comum. Não se cristaliza, pelo contrário, reinventa-se. E, nos últimos anos, priorizou as relações humanas no cerne da sua agenda [política].

Em 2011, na qualidade de Secretária de Estado dos EUA, Hillary fez um discurso histórico, na sede da ONU, em Genebra, a propósito da celebração do Dia Internacional dos Direitos Humanos. Na sua intervenção, destacou o sofrimento da população LGBT em várias partes do mundo; e relembrou que a Declaração Universal dos Direitos Humanos sustenta uma ideia simples: nascemos livres e iguais em dignidade e direitos. E que esses direitos não são conferidos pelos Estados, senão pelo nascimento, sendo algo indissociável à condição humana.

Sim, é uma pessoa do sistema, como tantas outras, o que lhe confere alguma ambiguidade. Mas essa dubiedade, no meu caso, transformou-se em admiração — e admiração pela sua determinação invulgar —, impelindo-me a reflectir se teria sido diferente se Hillary não fosse mulher; seria Trump o representante eleito pelo partido republicano?; e se o seu oponente fosse mulher ou se o género de ambos estivesse ao contrário?…

Ao longo da sua campanha — #StrongerTogether —, Hillary falou que é possível uma Economia que funcione para toda a gente e não só para alguns; é possível trabalhar em conjunto para a segurança colectiva e individual e por um país mais forte (e também além-fronteiras já que as políticas externas e internas norte-americanas chegam até nós); e é possível desenvolver um espírito de coesão e unidade para enfrentar os problemas que vão surgindo, e aproveitar as oportunidades e soluções possíveis. Porquê? Porque muro algum terá o potencial de uma ponte; e porque a segregação e as desigualdades não podem ter a última palavra.

Resta-me reconhecer que me sinto profundamente grata pela sua ambição e por ter ousado chegar ao mais alto cargo oficial dos EUA. Características até há bem pouco atribuídas apenas ao género masculino. Hillary Clinton pode não ter ganho as eleições presidenciais mas o seu legado está só no início.

 

Sara Martinho

 

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