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Saúde mental das pessoas LGBTIQIA+ idosas: a importância de cuidar do bem-estar psicológico na velhice

leticia david psicologa

A sociedade está a viver uma era de maior visibilidade e aceitação das identidades  LGBTIQIA+, mas ao mesmo tempo, há um segmento da população frequentemente esquecido: as pessoas LGBTIQIA+ idosas. Embora muitas lutas  pela igualdade e pelos direitos dessa comunidade tenham ganhado destaque nas  últimas décadas, a saúde mental da população LGBTIQIA+ mais velha continua a  ser uma área marginalizada. É fundamental que se reconheçam os desafios  únicos enfrentados por estas pessoas e que se promova o cuidado adequado do  seu bem-estar psicológico, garantindo que envelhecer com dignidade, respeito e saúde mental seja uma realidade para todos. 

Desafios do Envelhecimento LGBTIQIA+ 

O envelhecimento já é um processo desafiador, mas para as pessoas LGBTIQIA+,  ele pode envolver questões complexas que afectam directamente o seu estado psicológico. Muitos indivíduos da geração mais velha cresceram num contexto de forte discriminação e criminalização das suas orientações e identidades sexuais,  o que, em muitos casos, gerou traumas profundos e uma vivência de medo e  invisibilidade. Muitos esconderam a sua identidade por décadas, devido ao  estigma social, à vergonha internalizada e ao medo da exclusão familiar. 

Essa vivência prolongada de repressão pode ter consequências duradouras na saúde mental. A depressão, a ansiedade e o stress pós-traumático são comuns  entre as pessoas LGBTIQIA+ mais velhas, muitas vezes exacerbados pela solidão e  pela falta de uma rede de apoio social. Como resultado, estas pessoas podem ter  dificuldades em encontrar cuidados adequados, já que o sistema de saúde nem sempre está preparado para lidar com questões específicas relacionadas com a  identidade de género ou orientação sexual, especialmente na população mais velha. 

 

A Invisibilidade das Pessoas LGBTIQIA+ Idosas 

É importante salientar que as pessoas LGBTIQIA+ idosas muitas vezes enfrentam  uma invisibilidade dupla. Primeiro, por serem LGBTIQIA+, o que as coloca à  margem das políticas e programas de saúde mental direccionados à comunidade  jovem e adulta LGBTIQIA+. Segundo, por serem idosas, o que as torna invisíveis  dentro de um sistema de saúde focado principalmente em atender os idosos  heteronormativos, desconsiderando as especificidades e os desafios que pessoas  LGBTIQIA+ enfrentam ao envelhecer. 

A invisibilidade e o isolamento social resultantes dessas múltiplas margens  podem ser prejudiciais à saúde mental. Muitos idosos LGBTIQIA+ não se sentem confortáveis em procurar ajuda psicológica, pois temem ser tratados de forma discriminatória ou não receber um cuidado adequado às suas necessidades emocionais e identitárias. 

 

O Papel da Psicologia no Apoio a Pessoas LGBTIQIA+ Idosas 

A psicologia tem um papel crucial no apoio à saúde mental de pessoas LGBTIQIA+  idosas. O primeiro passo é criar espaços seguros e acolhedores, onde estas  pessoas possam expressar-se sem medo de julgamento ou discriminação. Psicólogos e profissionais de saúde mental precisam ser treinados para lidar com  as especificidades dessa população, compreendendo as dificuldades históricas que os indivíduos LGBTIQIA+ mais velhos enfrentaram e como isso moldou a sua  visão de si mesmos e do mundo. 

É necessário que os psicólogos adoptem uma abordagem inclusiva que reconheça a identidade de género e a orientação sexual como componentes importantes da  experiência de vida dos idosos LGBTIQIA+. Isso implica validar as suas histórias,  ouvir as suas experiências e garantir que sejam tratados com o respeito e  dignidade que merecem. 

Além disso, intervenções como o fortalecimento das redes de apoio social e a  promoção de actividades comunitárias inclusivas podem ser fundamentais para  reduzir a solidão, um factor crítico que afecta muitas pessoas LGBTIQIA+ idosas.  Grupos de apoio, eventos culturais e recreativos, e espaços de socialização  podem ajudar a criar um ambiente mais acolhedor e aumentar o sentimento de  pertença.

 

A Necessidade de Sensibilização e Capacitação 

A sensibilização sobre as necessidades específicas das pessoas LGBTIQIA+  idosas deve ser uma prioridade para profissionais de saúde, instituições e  sociedade em geral. Além de capacitar os psicólogos e demais profissionais de saúde mental, também é fundamental que se promova uma mudança cultural que  valorize a inclusão de todas as faixas etárias da comunidade LGBTIQIA+. O  envelhecimento não deve ser um momento de invisibilidade, mas sim uma oportunidade para as pessoas LGBTIQIA+ continuarem a viver de maneira plena e  saudável, com o apoio necessário para o seu bem-estar. 

Por isso, mais do que nunca, é essencial que as políticas públicas, os serviços de  saúde e os profissionais de saúde mental reconheçam a importância de oferecer  cuidados apropriados a essa população, permitindo que as pessoas LGBTIQIA+  idosas vivam o seu envelhecimento com a dignidade que merecem. A inclusão e a  compreensão não são apenas ideais a serem alcançados, mas direitos fundamentais a serem assegurados a todas as pessoas, independentemente da  sua orientação sexual, identidade de género ou idade.

O bem-estar psicológico das pessoas LGBTIQIA+ idosas não é apenas uma  questão de saúde mental; é uma questão de respeito à diversidade e à dignidade  humana.

 

Letícia David, Psicóloga