Saúde mental das pessoas LGBTIQIA+ idosas: a importância de cuidar do bem-estar psicológico na velhice
A sociedade está a viver uma era de maior visibilidade e aceitação das identidades LGBTIQIA+, mas ao mesmo tempo, há um segmento da população frequentemente esquecido: as pessoas LGBTIQIA+ idosas. Embora muitas lutas pela igualdade e pelos direitos dessa comunidade tenham ganhado destaque nas últimas décadas, a saúde mental da população LGBTIQIA+ mais velha continua a ser uma área marginalizada. É fundamental que se reconheçam os desafios únicos enfrentados por estas pessoas e que se promova o cuidado adequado do seu bem-estar psicológico, garantindo que envelhecer com dignidade, respeito e saúde mental seja uma realidade para todos.
Desafios do Envelhecimento LGBTIQIA+
O envelhecimento já é um processo desafiador, mas para as pessoas LGBTIQIA+, ele pode envolver questões complexas que afectam directamente o seu estado psicológico. Muitos indivíduos da geração mais velha cresceram num contexto de forte discriminação e criminalização das suas orientações e identidades sexuais, o que, em muitos casos, gerou traumas profundos e uma vivência de medo e invisibilidade. Muitos esconderam a sua identidade por décadas, devido ao estigma social, à vergonha internalizada e ao medo da exclusão familiar.
Essa vivência prolongada de repressão pode ter consequências duradouras na saúde mental. A depressão, a ansiedade e o stress pós-traumático são comuns entre as pessoas LGBTIQIA+ mais velhas, muitas vezes exacerbados pela solidão e pela falta de uma rede de apoio social. Como resultado, estas pessoas podem ter dificuldades em encontrar cuidados adequados, já que o sistema de saúde nem sempre está preparado para lidar com questões específicas relacionadas com a identidade de género ou orientação sexual, especialmente na população mais velha.
A Invisibilidade das Pessoas LGBTIQIA+ Idosas
É importante salientar que as pessoas LGBTIQIA+ idosas muitas vezes enfrentam uma invisibilidade dupla. Primeiro, por serem LGBTIQIA+, o que as coloca à margem das políticas e programas de saúde mental direccionados à comunidade jovem e adulta LGBTIQIA+. Segundo, por serem idosas, o que as torna invisíveis dentro de um sistema de saúde focado principalmente em atender os idosos heteronormativos, desconsiderando as especificidades e os desafios que pessoas LGBTIQIA+ enfrentam ao envelhecer.
A invisibilidade e o isolamento social resultantes dessas múltiplas margens podem ser prejudiciais à saúde mental. Muitos idosos LGBTIQIA+ não se sentem confortáveis em procurar ajuda psicológica, pois temem ser tratados de forma discriminatória ou não receber um cuidado adequado às suas necessidades emocionais e identitárias.
O Papel da Psicologia no Apoio a Pessoas LGBTIQIA+ Idosas
A psicologia tem um papel crucial no apoio à saúde mental de pessoas LGBTIQIA+ idosas. O primeiro passo é criar espaços seguros e acolhedores, onde estas pessoas possam expressar-se sem medo de julgamento ou discriminação. Psicólogos e profissionais de saúde mental precisam ser treinados para lidar com as especificidades dessa população, compreendendo as dificuldades históricas que os indivíduos LGBTIQIA+ mais velhos enfrentaram e como isso moldou a sua visão de si mesmos e do mundo.
É necessário que os psicólogos adoptem uma abordagem inclusiva que reconheça a identidade de género e a orientação sexual como componentes importantes da experiência de vida dos idosos LGBTIQIA+. Isso implica validar as suas histórias, ouvir as suas experiências e garantir que sejam tratados com o respeito e dignidade que merecem.
Além disso, intervenções como o fortalecimento das redes de apoio social e a promoção de actividades comunitárias inclusivas podem ser fundamentais para reduzir a solidão, um factor crítico que afecta muitas pessoas LGBTIQIA+ idosas. Grupos de apoio, eventos culturais e recreativos, e espaços de socialização podem ajudar a criar um ambiente mais acolhedor e aumentar o sentimento de pertença.
A Necessidade de Sensibilização e Capacitação
A sensibilização sobre as necessidades específicas das pessoas LGBTIQIA+ idosas deve ser uma prioridade para profissionais de saúde, instituições e sociedade em geral. Além de capacitar os psicólogos e demais profissionais de saúde mental, também é fundamental que se promova uma mudança cultural que valorize a inclusão de todas as faixas etárias da comunidade LGBTIQIA+. O envelhecimento não deve ser um momento de invisibilidade, mas sim uma oportunidade para as pessoas LGBTIQIA+ continuarem a viver de maneira plena e saudável, com o apoio necessário para o seu bem-estar.
Por isso, mais do que nunca, é essencial que as políticas públicas, os serviços de saúde e os profissionais de saúde mental reconheçam a importância de oferecer cuidados apropriados a essa população, permitindo que as pessoas LGBTIQIA+ idosas vivam o seu envelhecimento com a dignidade que merecem. A inclusão e a compreensão não são apenas ideais a serem alcançados, mas direitos fundamentais a serem assegurados a todas as pessoas, independentemente da sua orientação sexual, identidade de género ou idade.
O bem-estar psicológico das pessoas LGBTIQIA+ idosas não é apenas uma questão de saúde mental; é uma questão de respeito à diversidade e à dignidade humana.
Letícia David, Psicóloga