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Nem na mata se encontram histórias assim

Saúde mental na intersecção da identidade sexual e masculinidade 

Pedro Sabrosa

Em 1982, a homossexualidade foi descriminalizada em Portugal. No entanto, quase quarenta anos depois, os estudos mostram-nos que continuam a existir disparidades significativas na saúde mental entre indivíduos heterossexuais e de minorias sexuais.

 

Quando uma pessoa não se enquadra nas normas de género estabelecidas, muitas vezes enfrenta estigma, práticas discriminatórias ou exclusão social que afetam negativamente a sua saúde. Isto leva a que o bem-estar mental de indivíduos de minorias sexuais, seja especialmente influenciado por stresses característicos criados por ambientes sociais hostis. O epidemiologista psiquiátrico Ilan Meyer descreveu quatro processos de stress que muitos de nós reconhecemos: eventos de preconceito; expectativas de rejeição; a interiorização de atitudes negativas sobre homossexualidade; e o processo de esconder a nossa orientação sexual. Estes processos têm vindo a ser associados a níveis mais elevados de problemas mentais, abuso de substâncias, e ideação suicida, particularmente em homens de minorias sexuais.

Posto isto, é necessário compreender como estes homens interagem com os problemas de saúde mental. A construção identitária de um homem de uma minoria sexual pode ser um processo complexo, uma constante negociação entre a nossa identidade enquanto homens, que é influenciada por noções particulares de normatividade masculina na vida pública e privada, e a nossa identidade enquanto minoria sexual, que em muitos casos, vai contra essas mesmas expectativas culturais que são impostas pela sociedade.

A intersecção destes aspectos, apresentam-se enquanto agravantes, dificultando, na altura da procura de ajuda. Vários estudos demonstram que homens em geral tendem a procurar ajuda informal e profissional em níveis muito mais baixos do que mulheres. Esta apreensão para com profissionais de saúde mental representa uma barreira extra em homens de minorias sexuais que lidam recorrentemente com linguagem heteronormativa, forçando-os a mentir sobre a sua sexualidade ou a afirmá-la explicitamente, comprometendo assim o processo terapêutico e negando à pessoa a oportunidade de contextualizar a sua história. Não é portanto surpreendente, que quando estes homens procuram ajuda, já se encontram no limite.

É necessário criar um ambiente onde estes estejam confortáveis, não só a partilhar os seus problemas emocionais, mas também a discutir os seus comportamentos de procura de ajuda e as diversas estratégias de coping que adotam para lidar com situações de stress. No entanto, estas medidas apresentam-se como insuficientes por si só. Urge a necessidade que estas experiências de vida informem o trabalho dos profissionais de saúde. Só assim poderemos estar a contribuir para construir boas práticas de saúde mental e políticas de saúde pública, fazendo o melhor para chegar às reais necessidades.

É este o objectivo que o meu projecto de investigação tenta alcançar, se quiser participar, pode preencher um inquérito em: https://forms.gle/iLwFHYiCkNcbmHRTA 

 

Pedro Sabrosa

Aluno de Mestrado em Antropologia Médica e Saúde Global na Universidade de Coimbra

 

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