O performer egipcio-filandês traz-nos um filme que pode ser pensado como um diário visual de um relacionamento amoroso que foi vivido enquanto a sua identidade de género se transformava. “Um romance transmasculino situado no fim do mundo” (neste caso, em 2020, durante os primeiros tempos da pandemia), assim o descreve o autor. Eis que nos apresenta uma sessão de quatro horas em que o amor e o renascimento são temáticas centrais para a construção de uma peça que se foca na relação entre duas pessoas transmasculinizadas (ambas tendo “desempenhado personagens extremamente femininas nas suas vidas”, informa o próprio autor na sinopse da obra).

Aqui, o diálogo entre os conceitos de género, identidade, autoidentidade, sexualidade, a diferença e a semelhança existe dentro das quatro paredes que contornam o amor, a reflexão paira sempre sobre o próprio amar enquanto se ama. Por muito tentador que seja revelar mais daquilo que recolhi sobre a peça para sobre ela poder escrever, isso seria traição à experiência de assistir a este filme. E se muito me apetece especular sobre as suas tensões, se me apetece partilhar as imagens que me aliciaram a comprar os meus bilhetes, utilizarei este apetite apenas como força que expresse o quanto me cativou o trabalho de Samira. 

Oriana Silva