Ser gay continua a ser perigoso na Grécia: Espancados por estarem apaixonados
Boas notícias para a comunidade LGBTI da Grécia fecharam o ano de 2015: o país reconheceu as uniões civis entre pessoas do mesmo sexo. A luta pela igualdade, porém, continua longe de estar concluída no país, por isso, mostrar sinais de afecto ainda é muito perigoso. Que o diga Costas, um jovem que vive em Atenas e foi espancado só porque ama alguém do mesmo sexo.
Costas já estava habituado ao discurso de ódio, que é frequente no país, mas nunca tinha sido alvo dos ataques físicos que têm aumentado nos últimos anos. A organização não governamental Colour Youth referiu à Amnistia Internacional que os ataques contra pessoas LGBTI triplicaram em 2015 em relação ao ano anterior. A Amnistia Internacional já tinha registado que, entre 2014 e 2013, estes casos tinham mais do que duplicado. incluem espancamentos, violações e até pessoas a serem alvejadas.
As autoridades gregas continuam a desviar o olhar e a fingir que os crimes de ódio não são reais. Falham em investigá-los e em proteger estes seus cidadãos. Costas conta que quando foi atacado a polícia o tratou como se tivesse “uma doença contagiosa”. Agora é a altura certa para exigir que as autoridades gregas mudem de atitude, por isso, a Amnistia Internacional está a apelar à assinatura de uma petição que pede justiça para Costas e para todas as pessoas LGBTI.
Entretanto, vale a pena conheceres a história deste jovem, contada na primeira pessoa:
“Acho que perceberam que éramos um casal e que nos atacaram por causa disso”
Conhecemo-nos uns meses antes, no Pride de Atenas, e decidimos ir morar juntos. Morávamos num pequeno estúdio no centro de Atenas. Um dia, no final de Agosto, saímos para comprar algumas coisas e eu sugeri que ficássemos um pouco mais na rua em vez de voltarmos logo para casa.
Sentámo-nos num banco numa praça. Estava muito quente e havia uma brisa agradável ali fora. A praça estava relativamente vazia. Atenas é calma nesta época do ano. Toda a gente está fora. Éramos só nós, a loja de esquina que estava lentamente a fechar e um grupo de jovens no outro lado da praça. Não lhes demos muita atenção. Ficámos ali sentados, a conversar e a rir. Não podíamos imaginar o que iria acontecer.
Dois dos jovens aproximaram-se por trás de nós numa mota e atiraram-nos com um balde de água suja. Eu fiquei paralisado. Sentei-me para me tentar acalmar antes de irmos para casa. Grande erro! Um a um, os jovens correram em direcção a nós e começaram a espancar-nos. Eram uns 12 ou 15. Demasiados. E continuaram a espancar-nos.
Acho que perceberam que eramos um casal e que nos atacaram por causa disso - e por causa da cor de pele do meu companheiro. A última coisa que vi foi ele a ser atirado para o chão e a pontapearem-no. Não consegui ver mais nada depois disso. Percebi que a minha cabeça e a parte superior do meu corpo estavam dentro de um caixote do lixo que eles tinham virado. Atiraram-me depois para o chão e partiram-me a perna em três sítios.
Quando a polícia chegou ninguém falou comigo directamente. O agente nem se aproximou de mim, como se tivesse alguma doença contagiosa. Foi horrível. Demorei meses a recuperar. Tive de realizar uma cirurgia, claro. E tudo isto afectou o meu emprego, a minha saúde mental – ambos passámos um mau bocado. Agora a minha perna já parece estar bem, mas sempre que vejo algum tipo de violência tudo volta, todo o horror e todo o medo. É tragicamente doloroso. E ninguém foi levado à a justiça pelo que aconteceu. A polícia devia esforçar-se mais.
Quando eu e o meu companheiro nos conhecemos, o Pride de Atenas celebrava 10 anos. Fiquei feliz por a comunidade se estar a tornar cada vez maior, mas pouco mudou para as pessoas LGBTQI na Grécia. Encontrar o meu parceiro foi uma bela surpresa. O facto de ele ser estrangeiro nunca foi um problema. Simplesmente gostei dele.
Tivemos de nos mudar para outra zona por causa do ataque. E depois o meu companheiro foi atacado novamente. Isto continua a acontecer, a nós e a pessoas que conhecemos. Não nos sentimos seguros.
Não fiques indiferente. Assina a petição dirigida ao Ministro da Justiça grego aqui:
Paulo Monteiro com AIP