“As injúrias acompanhavam os socos, e o meu silêncio, sempre. Paneleiro, bicha, rabeca, maricas, panasca, roto, larilas… ou o homossexual, o gay. Às vezes cruzávamo-nos nas escadas a abarrotar de estudantes, ou noutro sítio, no meio do pátio. Não me podiam bater à vista de todos, não eram assim tão estúpidos, poderiam ser expulsos.”
O livro “Acabar com Eddy Bellegueule”, de Édouard Louis, foi lançado recentemente em Portugal pela Fumo Editora. O dezanove entrevistou por e-mail Édouard Louis, de 22 anos. “O insulto é como uma certidão de nascimento, irá definir o resto da sua vida”, refere a propósito da personagem principal da obra.
“Da minha infância, não tenho nenhuma recordação feliz. Não quero dizer que, durante esses anos, não experimentei nenhum sentimento de felicidade ou de alegria. Simplesmente, o sofrimento é totalitário: tudo o que não entra no seu sistema, ele faz com que desapareça”, escreveu Édouard Louis no arranque do livro “Acabar com Eddy Bellegueule”, lançado em França em Janeiro do ano passado e recentemente em Portugal pela Fumo Editora, com tradução do crítico António Guerreiro.