Com base na personagem Antígona, de Sófocles, Judith Butler disserta sobre o poder do Estado, a subversão de género e do parentesco. O poder do Estado, representado por Creonte, surge como contraposto às leis morais, familiares e divinas, representadas por Antígona, levando-nos a questionar a legitimidade ética das várias dimensões.
“Eu sofro e desenho. Por vezes ao mesmo tempo. Para uma mulher branca ocidental a que não falta nenhuma das suas necessidades básicas, uma confissão destas é um pouco embaraçosa. Mas as coisas são o que são. Tenho estatura baixa e o meu ponto de vista do mundo é contrapicado, o que acarreta consequências. E sei que não estou sozinha. Ponho a minha mão no fogo (para sofrer um pouco mais) ao afirmar que todas as almas se atormentam quando, diante do espelho, vêem o modo acidentado como caminham pela vida, o que é um alívio. Sobretudo porque a inépcia dos outros é divertida.” - Manual de Autodefesa, LuciGutiérrez (Orfeu Negro, 2021)
A história das mulheres tem sido uma batalha constante pela conquista de novos espaços de liberdade, encabeçada por figuras decisivas e iniciativas colectivas.
Recentemente, partilhei aqui o quão fascinante foi para mim a descoberta da feminista Audre Lorde. Se ficaram motivados em explorar esta autora, destaco o seu livro 'Sister Outsider'.
"Durante muito tempo, quando alguém aludia àquele que é o meu trabalho há quinze anos, fazia-o usando o eufemismo da profissão «mais antiga», mas, para mim, o que a humanidade tem de mais antigo é a condenação das mulheres, das lésbicas, das travestis, das trans e das prostitutas que bem condenadas temos sido - e continuamos a ser - nesta sociedade machista e patriarcal." Georgina Orellano, Puta Feminista (ed. Orfeu Negro, 2023)
“Defender que o sexo já tem género, que já é construído, não explica como se produz forçosamente a «materialidade» do sexo. Com que restrições se materializam os corpos como «sexuados», como entenderemos a «matéria» do sexo e, de maneira mais ampla, a dos corpos como repetida e violenta circunscrição da inteligibilidade cultural? Que corpos se materializam e contam (matter], e porquê?” - Judith Butler, Corpos que Contam (Orfeu Negro, 2023)
“Temos de descobrir por conta própria que o amor é uma força tão real quanto a gravidade, e que ser sustentados pelo amor todos os dias, a cada hora, a cada minuto, não é fantasioso – deve ser o nosso estado natural.” (p.192)
Ain’t I a Woman (1981) ou, se quisermos em português,Não serei eu Mulher? (2018), é um clássico obrigatório da teoria feminista e reflexão interseccional. Pelas mãos de bell hooks, feminista e activista norte-americana, é resgatado o famoso discurso de Sojourner Truth (1852) para nos mostrar a sua indignação sobre a histórica diferença das experiências de mulheres negras e brancas no que toca aos papéis e identidades femininas. Para isso, bell hooks, constrói uma reflexão exímia em torno do impacto que a escravatura e o sexismo tiveram no estatuto social das mulheres negras norte americanas na segunda metade do séc. XX.
Paul B. Preciadoé um dos filósofos feministas que mais tem se destacado nos debates da teoria queer e dos estudos de género deste século. Conhecido pela auto-administração de testosterona ao longo de 236 dias – metáfora política à contestação dos corpos e das sexualidades que permanecem sobe a tutela dos Estados -, publica Testo Yoqui, obra que partiria da sua experiência, enquanto homem trans, para desbravar como as estruturas de poder político e indústrias fármaco-pornográficas influenciam as experiências individuais e como se vive e constrói o corpo.
“Tenho quarenta e três anos, sou casado e pai de família. (...) Nem sempre vivi fascinado pela roupa feminina. Durante muitos anos, até ao meu casamento, eram só as cuecas delas que me atraíam. Embora ainda não tivesse chegado, talvez, a altura de vestir toda a toilette de uma mulher, esse desejo crescia já em mim e esperava a ocasião para se manifestar.”
Obscénica – Textos Eróticos & Grotescos, da chancela da Orfeu Negro (2014), é uma obra que reúne dos textos mais controversos e grotescos da autora brasileira Hilda Hilst (1930-2004).