O termo macaroni conduz-nos à Inglaterra do século XVIII, sendo então usado para descrever de forma derrogatória homens tidos por efeminados. Os macaroni desafiavam a masculinidade normalizada, exagerando ostensivamente o vestuário, penteados e maquilhagem. Os zelosos defensores das convenções atribuíam a origem de tais práticas e modas à perversa influência estrangeira – francesa ou italiana, de onde provavelmente virá a inspiração para o termo.

A performance que The Cursed Assembly – um grupo nómada e experimental de leitura, investigação e discussão sobre temas que vão do feminismo à magia, e da ciência e à história LGBTQ – irá apresentar no DDD no próximo dia 27 será uma simulação especulativa de um dos encontros “clandestinos” que os macaroni terão promovido à época. O público que deseje participar poderá fazê-lo, inserindo-se naquele jogo de representações em mutação e diálogo constante com os demais personagens em campo, como num videojogo em que damos corpo e voz ao avatar que pretendemos assumir.

Recuperar a figura do macaroni para circulação no discurso actual permite tecer uma longa genealogia de modelos sociais associados ao “efeminado”, que ao passar das gerações teve diversas reencarnações. Do dandy oitocentista ao “metrossexual” da viragem para o século XXI, todos estes moldes estilísticos questionam as representações sociais da virilidade através do vestuário, da aparência, do cuidado com a beleza, que extravasam o que é considerado aceitável para o modo de ser masculino.

O drag será uma versão mais arrojada e assumida do desafio da norma. Ao explorar as manifestações da “efeminação” e as suas relações performativas, The Cursed Assembly propõe um novo conceito de ser presença, não apenas presente. Nesse sentido, podemos perspectivar as nossas identidades como construções encenadas, cenografadas e dramatizadas, às quais associamos, como adereços em palco, nomes de fantasia, bordões, trejeitos, gestos, coreografias, manifestando uma vontade de agir em desafio do que é esperado de nós. 

Um exercício de liberdade de que somos simultaneamente executores e espectadores, criadores de peças de arte efémeras em co-autoria com outros macaroni, drags, efeminados e todos os performers do estilo à margem das convenções. É o que se propõe a quem quiser participar no The Macaroni Club, no âmbito do DDD.

Pedro Leitão

Foto: History Today