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Titica cria a roda do(s) diversos kuduro(s) no Musicbox 

Titica

Já não estávamos juntos desde o arraial Pride de 2019. No Musicbox, em Lisboa, Titica desceu do palco, tirou os saltos e foi ao “chão, chão, chão”. Num registo mais familiar, as pessoas a dançar kuduro, voguing e kizomba com direito a beijo. 

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A cantora angolana Titica passou pela cidade do Porto e de Lisboa para dois concertos mais intimistas numa aposta no clubbing e para a divulgação das músicas dos últimos 13 anos de carreira e com espaço para parcerias. Porque a cantora é versátil apesar de ser kudurista de raiz, “um costureiro não faz só saias”, refere na conversa que tivemos nos bastidores após o espectáculo. 

Titica é uma referência para as mulheres negras e para as comunidades LGBTQI+ do Brasil, Portugal e claro no seu país Angola. Vinda do bairro, o musseque começa a sua carreira artística como bailarina da kudurista Noite e Dia. A sua carreira a solo conta com temas que viralizaram como “Olha o Boneco”, “Chão”, “Ta domina” e “Xocalho”. 

“Antigamente eu cantava para divulgar o meu trabalho, não sabia do impacto da minha arte além fronteiras”, destaca Titica. Ciente da responsabilidade que tem para as gerações mais novas, para as mulheres trans e para os jovens que se vêem representados em vidas pautadas por várias discriminações. “As pessoas do bairro pensam que onde eu cheguei, elas também podem chegar”, numa clara alusão às raízes do musseque onde são cozinhadas as letras e os toques de kuduro. Num alinhamento de festa de bairro e quintal Titica cria um espaço de comunhão, alegria e exibição. “As pessoas têm que ser quem são e não me interessa impor nada, simplesmente inspirar e festejar”. 

Não é um disparate ser diferente 

A sala do Musicbox aderiu à roda de kuduro com toques misturados com gestos de voguing. A cantora desceu do palco e olhou nos olhos de todas e todos. “Eu gosto de tocar para toda a gente e gosto de chamar as pessoas para se expressarem na sua dança, mulheres, mulheres trans e homens”. É essa ligação entre a “city” e o “gueto” que tem definido o trabalho artístico da Titica, por onde quer que passe. Juntar mundos através da dança e da música, mundos de costas voltadas por questões de classe, mas sobretudo por opressões de género e de racialização. O duetos que faz com músicos como Pabllo Vittar, Yola Semedo, Ary, mas com homens músicos como Paulo Flores e Matias Damásio assinalam diálogos muitas vezes impossíveis e marcados pelo ambiente machista e pós-colonial em que vivemos. Titica com a sua arte, abre os braços e dá espaço para uma nova abordagem. No Musicbox deu o palco para o produtor angolano a residir em Portugal, Niggarox que cantou uma música do seu repertório e que está a trabalhar no próximo disco da cantora. 

Niggarox confessa-se tocado pela forma como a Titica revolucionou o kuduro dando-lhe um swing capaz de juntar diferenças, a cidade e a periferia, as várias identidades sexuais e a forma como inspira as pessoas a serem elas próprias. Titica refere que “não é um disparate ser diferente” e que a sua responsabilidade é posicionar-se “para que todas as mulheres trans possam sentir-se bem”. 

Nigarox

Titica vai continuar a apostar neste modelo mais intimista até à chegada da época dos festivais. Até lá vai trabalhar no seu novo álbum empenhada em “transformar vidas” numa roda de kuduros diversos. 

 

Texto de André Soares

Fotos e vídeos de Noé João