"Toda a gente nesta sala um dia há de morrer" de Emily Austin
O livro “Toda a gente nesta sala um dia há de morrer” retrata a história de Gilda, uma jovem lésbica e ateia que, por obra do acaso, vai trabalhar como rececionista de uma igreja católica. Tinha lá ido devido a um anúncio que oferecia serviços grátis na área da saúde mental mas acaba por ser contratada para substituir Grace, a anterior recepcionista, que falecera recentemente.
Gilda vive uma vida que é, em muitas circunstâncias, pautada pelo fingimento. Finge ser alguém que não é no seu local de trabalho, finge ser alguém que não é nos relacionamentos ocasionais com homens, finge ser alguém que não é nas trocas de e-mails com uma amiga de Grace, que apesar de ter falecido, continua, para essa mesma amiga, viva.
Efectivamente, Gilda vive uma vida que não lhe corresponde, é uma actriz em representação. Esta representação torna-se clara na igreja onde trabalha, contexto tradicional e homofóbico, em que até se distribuem e colam cartazes referindo a homossexualidade como uma doença. Gilda tenta parecer ter costumes, valores e perspectivas semelhantes aos demais naquele contexto, escondendo, obviamente, a sua orientação sexual. Quanto à relação de Gilda com a religião, este é um excerto que importa destacar: “Quando penso na Igreja Católica e na maioria das religiões em geral, a minha teoria é que elas surgiram como uma solução para o nosso pavor existencial (…). É irónico que um sistema de crenças teoricamente criado para me ajudar a sentir segura e importante me tire uma das poucas coisas que me faz sentir que vale a pena viver a minha vida.”
Este livro permite, de facto, reflexões sobre vidas fingidas que, devido aos contextos homofóbicos e repressivos que subsistem na sociedade, pessoas homossexuais acabam por viver.
Este livro permite, de facto, reflexões sobre vidas fingidas que, devido aos contextos homofóbicos e repressivos que subsistem na sociedade, pessoas homossexuais acabam por viver.
Esta história evidencia, também, uma Gilda ansiosa, hipocondríaca, que assume pensamentos negativos, ruminantes, catastróficos, que teme a morte, se desvaloriza e culpabiliza constantemente. A autora do livro, Emily Austin, consegue, através de monólogos de Gilda, captar a realidade de pessoas que vivem com ansiedade e ataques de pânico frequentes.
Para além da vida na igreja e os problemas relacionados com a ansiedade, Austin dá-nos a conhecer as relações familiares conturbadas de Gilda, a relação desajeitada com Eleanor e os questionamentos sobre a morte de Grace.
Efectivamente, este é um livro que vale a pena ler pois permite reflexões verdadeiras e duras sobre vários aspectos.
Sara Lemos