Tomás Castro Neves: "a sexualidade não tem de ser o cerne da questão no que se associa ao corpo nu"
O teu desenho foca-se no corpo do homem, sem o sexualizar. Porquê?
O corpo é algo que, por definição, tem um aspecto sexual e, por isso, qualquer tentativa de o representar terá esse parâmetro de forma inerente. Apesar disso, a sexualidade não tem de ser o cerne da questão no que se associa ao corpo nu, eu prefiro vê-lo como um instrumento de expressão. Da mesma forma que é a nossa ferramenta de interação com o mundo, poderá também ser o instrumento de “expressão muda” nas imagens que desenho, mais ou menos contorcido, mais ou menos explicito. Assim, nos meus trabalhos, a sexualidade deve surgir como uma expressão de naturalidade, e não como um fim objectificável.
A sexualidade não tem de ser o cerne da questão no que se associa ao corpo nu, eu prefiro vê-lo como um instrumento de expressão.
As tuas ilustrações remetem-nos para cenários quotidianos. Deve-se a alguma preocupação de visibilidade, reconhecimento e/ou validação?
Creio que é necessária a visibilidade do quotidiano. O meu desenho de corpo procura representar o homem antes ou depois de ser sexual. Este homem sensível também pode ser representado, e penso que pode transcender a sua identidade sexual.
Que influência tem a informação, cultura e identidades LBGTQIA+ no teu trabalho artístico?
Acredito que o meu trabalho é uma derivação directa da cultura LGBTQIA+, que é acerca da representação das verdades individuais e de encontrar pontos em comum, ou semelhanças, entre elas. É essa existência pacífica com a sua verdade que é desafiante no dia-a-dia e que pretendo representar nas minhas peças. Por vezes, existe um elemento de conflito ou de resolução. Por vezes, são peças de euforia ou de desdobramento e multiplicação. Parece-me que este processo de inconstância e de pesquisa é caracterizador do percurso de qualquer LGBTQIA+, ou de qualquer pessoa que tenha coragem de se encarar desta forma.
Na tua opinião, como é que a ilustração e o desenho podem contribuir para mais igualdade?
A Arte pode ter um carácter disruptivo e questionador. Qualquer questão que seja capaz de nos fazer pensar deve ser feita. Procuro que a minha arte não seja antagonista. Que os corpos que represento gerem identificação e “descomplexifiquem” os preconceitos associados ao corpo, à nudez e à sexualidade. O corpo é, no fundo, um instrumento e deve ser visto como tal.
Que outros artistas queer segues?
Sigo vários artistas como o Andrew Salgado, Jeff Chemung, Albert Madaula e Daniel Torrent. O trabalho que desenvolvem interessa-me.