Nas vésperas da Marcha do Orgulho de Lisboa o dezanove.pt aproveitou para falar com Jorge Gato sobre a importância deste manual que pretende cumprir o objectivo de aumentar literatura sobre este tema em língua portuguesa de Portugal. “Fazia falta literatura em língua portuguesa, porque não temos muita e a elaboração do manual partiu também de muitas solicitações de públicos formativos”, refere Jorge Gato. 

O Manual de Intervenção pretende ser um instrumento de trabalho em vários contextos a partir do trabalho científico de vários investigadores que trabalham há largos anos com estas populações. Jorge Gato destaca que “o livro abarca várias vertentes como a intervenção individual até às famílias e depois mais nas escolas, no contexto de trabalho. Tem um capítulo introdutório com os conceitos mais básicos, que são também muito importantes”.

A comunidade académica em Portugal é consensual em afirmar que o processo de crescimento de pessoas LGBTQIA+ ainda é feito de uma forma muito violenta colocando o bem estar e a vida destas pessoas em causa. Esta vulnerabilidade provocada pelo estigma, preconceito e discriminação tem impactos nos vários aspectos do quotidiano como a escola, a família e o ambiente familiar. “Nós temos um problema de estigma muito grande que permanece, com impactos muito sérios na saúde mental destas pessoas e aí a psicologia é chamada a intervir para remediar, sempre com base em evidências científicas e essa tem sido a minha luta”, refere Jorge Gato. 

Jorge Gato é investigador e psicólogo com larga experiência de intervenção social e individual com populações LGBTQIA+. Este manual pretende ser um instrumento de capacitação para todos os agentes envolvidos num país onde ainda há um longo caminho a percorrer até que a igualdade realmente exista. Jorge refere que “os percursos de pessoas com identidades menorizadas são difíceis, mas temos de ser convocados a intervir em conjunto e basta ver esta jovem geração que tem activado um conjunto de propostas com as quais nós podemos aprender muito”. 

A edição deste livro surge numa altura em que o ambiente político está carregado de grandes desafios como os discursos de extrema direita que têm aprofundado a discriminação contra as populações LGBTQIA+. Para o investigador Jorge Gato há vários estudos internacionais que mostram, por exemplo nos Estados Unidos da América, que as leis mais igualitárias destas populações geram sociedades mais felizes e com bem estar. “Os direitos e as leis associadas têm impactos na saúde mental, percursos de vida e também na saúde física”, alerta o investigador. “Eu vejo com alguma preocupação a ascensão dessas forças mais conservadoras que advogam um só modelo de sociedade”, refere o psicólogo, que reuniu um conjunto de investigadores para escreverem de forma acessível e cientificamente muito cuidadosa. 

Jorge Gato considera que a academia tem um papel fundamental para a consciência e a informação sobre a intervenção com as populações LGBTQIA+ devolvendo de forma comprometida e responsável este conhecimento às populações mais vulneráveis, mas também à sociedade em geral. O manual deve ser folheado de uma forma livre e relacionada com os interesses dos leitores. O livro “está organizado em capítulos, não há propriamente uma ordem e as pessoas podem ler o que lhes interessar mais, desde a intervenção em contextos de trabalho, na escola, na parentalidade, em casal”, refere Jorge Gato que pretende que este esforço conjunto favoreça mudança social tornando Portugal um país onde valha a pena viver e estar bem e em segurança. 

André Castro Soares