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Uma análise à participação russa na Eurovisão

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A música de Polina Gagarina “A Million Voices” chegou à Eurovisão com a mensagem “We Belive in a Dream”. Tanto na maior sala de música do ano como nos votos ocidentais os espectadores não sonharam.

Na sala aquando das pontuações russas eram frequentes os apupos do público, levando uma das apresentadoras a esclarecer que o carácter político encontra-se fora do espectáculo musical. Como é hábito, os países vizinhos geo-historicamente da Rússia foram os mais generosos com as pontuações. De entre os cinco países que atribuíram 12 pontos encontra-se apenas um país ocidental, a Alemanha, que se juntou assim à Arménia, Azerbaijão, Bulgária e Estónia.

A mensagem era bela e extremamente idílica, no entanto vinda da Rússia, que tem vindo a ser acusada de homofobia, soou a cinismo. Polina não foi eleita mas sim seleccionada pelo canal público Perviy Kanal que se encontra maioritariamente na mão de entidade estatais (51%). Terá sido intenção de Putin levar uma mensagem de aparente calma e tolerância?

O governo russo declara que não é homo/bi/transfóbico e apenas pretende proteger os menores da “propaganda gay”. No entanto, são vários os vídeos/imagens e depoimentos que circulam pela internet que nos retratam o sofrimento em que vivem todos aqueles que não estão no espectro hetero-normativo.

Milhares, e talvez milhões, de russos continuam a viver num ambiente homo/bi/transfóbico onde a protecção contra a discriminação é claramente esquecida pela presidência de Putin. Encontram-se desprotegidos e à mercê de grupos intolerantes que lhes afligem imenso sofrimento psicológico e físico e de um ambiente cada vez menos inclusivo.

Mas podemos também olhar para a música russa como um grito de apelo e sensibilização da opinião pública para a igualdade? Tendo em conta que a música foi criada por uma equipa internacional, terá sido uma forma de driblar com as políticas homofóbicas? Na letra há dois momentos que nos podem remeter para esta situação: 1) "We are the worlds people/ Different yet we're the same" plano de completa igualdade; 2) "I hope we can start again/We believe/We believe in a dream", estará aqui uma clara referência às impopulares e discriminatórias políticas? Haverá um recomeço para todos os LGBT+ russos? É ainda de destacar que, segundo o jornal The Independent, a participação de Polina na Eurovisão tem sido condenada por vários líderes religiosos e políticos russos, o que corrobora com esta segunda tese.

Seja como for, é imperativo uma união de vários um milhão de vozes pelos nossos "irmãos" russos, para que possam ter um vida digna, sem medo e preconceito. Temos que acreditar no sonho em que seremos todos iguais, em que não haverá espaço para fobias sociais e que os direitos para qualquer ser humano serão iguais.

E por falar em sonhos, dia 23 realizou-se mais um. A Irlanda, país maioritariamente católico, aprovou por larga maioria o casamento homossexual. Somos muitos milhões, temos biliões de sonhos e temos de lutar por eles.

 

 

Crónica de João Miguel, colaborador do dezanove.pt