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Uma Conversa com DJ Lil Bukkake: Música, Comunidade e Ironia

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No mês do orgulho e no cada vez mais alargada cena nocturna de Lisboa, a DJ Lil Bukkake destaca-se não apenas pela sua música, mas também pelo seu compromisso em criar espaços de escape e visões imaginárias para a comunidade LGBTQIA+. Numa conversa recente, ela compartilhou a sua jornada como DJ e as motivações por trás do seu trabalho.
Lil Bukkake começou a sua carreira como DJ há cerca de dois anos e meio, durante a pandemia de COVID-19. "Sempre pensei em ser DJ, e a oportunidade surgiu quando um amigo que possui um bar queer no Porto precisava de um DJ. Toquei em troca de bebidas e pude praticar em frente a uma audiência ao vivo todos os fins de semana, o que foi um excelente treino", recorda. A música sempre fez parte da sua vida, especialmente por influência da família, onde havia muitos DJ´s, ambiente decisivo para a sua experimentação e sensibilidade musical. Criar ambientes sonoros de festa e de ligação entre as pessoas numa paisagem musical que aposta na música afro-diaspórica e com forte influência das práticas musicais expressivas afro-americanas.  Embora não tenha feito Djing na Califórnia, a experiência de viver em várias cidades dos EUA influenciou o seu estilo musical. "O meu amor pela cumbia vem de ter crescido em Houston, e Detroit, onde nasci, que é a cidade da Motown Records, o que fundamentou o meu gosto por R&B e soul. Na Califórnia, apaixonei-me por salsa e bachata", explica. A vinda de Bukkake para Lisboa alarga as suas audiências pendulando agora entre as duas cidades. 
A inspiração para criar espaços de diversão para a comunidade LGBTQIA+ negra vem da observação das tendências culturais e da necessidade de mais oportunidades de diversão e construção de comunidade(s). "Algo que tem estado muito presente na minha mente é como nos reunimos e o que a comunidade precisa neste momento. Vejo que precisamos de mais oportunidades para nos conectarmos e desfrutarmos", refere Lil Bukkake refere a influência de figuras como DIDI, um dos pioneiros na vida nocturna queer negra em Lisboa. “Ver pessoas como DIDI, que é um pioneiro na vida noturna negra e queer aqui em Lisboa. Ver como ele cria oportunidades para outras pessoas negras e queer na vida nocturna é inspirador e representa o verdadeiro sentido de comunidade" destaca a DJ.
 
Novos Espaços, Novas Experiências
Criar espaços inclusivos tem representado um desafio para a Dj. Bukkake enfrentou desafios devido ao seu nome, aparência e raízes afro-americanas. "Ser uma mulher DJ já é difícil, mas ser uma mulher negra com um nome 'louco' torna tudo ainda mais complicado. Já tive gente que queria que eu mudasse o meu nome para me dar um trabalho", conta. Apesar dos obstáculos, ela continua a aparecer coberta de glitter, determinada a ser celebrada nas suas múltiplas facetas.
O objectivo de Bukkake é proporcionar momentos de alegria, ligação e liberdade. "As pessoas estão tristes e mais distantes do que nunca. Se eu puder criar um momento em que esqueçam as suas preocupações, seja tocando uma música que não ouvem há 20 anos ou organizando um evento onde se possam divertir, isso é o mais importante para mim", afirma. Um dos momentos mais marcantes para Lil Bukkake aconteceu no Casa Independente quando, enquanto punha música, viu uma jovem que chegou à posta inicialmente tímida se foi tornando mais confiante e finalmente dançar livremente enquanto a música tocava. "Quando estou a fazer de DJ e olho à minha volta e vejo as pessoas a cantar juntas, nesse momento estamos todos presentes, juntos e conectados. É lindo.", relembra. 
Bukkake prevê que a vida nocturna precisará ser mais criativa para atrair pessoas. "Espaços LGBTQIA+ estão a lutar pela mudança de mentalidades”. Segundo nos confessa, em Lisboa, a vida nocturna divide-se entre espaços de entretenimento gay e espaços queer. Os primeiros, actualmente, enfrentam dificuldades, resistindo às mudanças e mantendo práticas inalteradas há mais de 20 anos. Embora tentem aparentar ser espaços queer e seguros, as suas acções e o ambiente que promovem revelam uma realidade diferente. Lil Bukkake questiona: Devemos trabalhar com os espaços gay existentes, incentivando-os a evoluir e a adoptar práticas mais inclusivas? Ou será mais eficaz criar novos espaços desde o início, com uma cultura já estabelecida de inclusão e segurança?
 

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Para outros DJs e organizadores de eventos, Bukkake aconselha a agir com intencionalidade. "Ser DJ e organizar eventos tornou-se uma forma de ganhar atenção e dinheiro rapidamente, perdendo a intencionalidade. As pessoas estão desejosas por novas agencialidades", enfatiza.
Através da sua música e dedicação, DJ Lil Bukkake vai continuar a propor e a moldar o cenário musical e a vida nocturna de Lisboa, criando experiências onde todos podem sentir-se bem-vindos e livres por serem quem são.

Os próximos projectos de Bukkake incluem a criação de mais eventos comunitários que vão estender além da vida nocturna, com o Funfunfun.world, que promove moda e actividades como desenhar no parque. "Precisamos de mais diversão, alegria e libertação", conclui.

No passado dia 6 de Junho Bukkake actuou na Casa do Comum, no Porto, num evento muito especial: uma Noite de Queer Prom: uma celebração inesquecível, que ofereceu uma oportunidade única para a comunidade se reunir e festejar. Mas a sua agenda não fica por aqui. Segue a DJ Bukkake nas redes sociais:

 

 

Fotos by POV Lisboa

André Soares