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Uma oportunidade rara e histórica para a Igreja

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As conclusões preliminares referentes à primeira parte do Sínodo dos bispos, realizado no Vaticano no passado mês de Outubro e a continuar no próximo ano, trouxeram algumas novidades e abordagens diferentes em vários temas relacionadoscom a sociedade e a família. Muitas dioceses em todo o mundo, incluindo o patriarcado de Lisboa, vão realizar sínodos locais, onde estes mesmos temas serão abordados, discutidos e aprofundados nas paróquias, movimentos e grupos, para que os bispos locais se inteirem das reflexões dos fiéis (leigos e consagrados) e possam, de alguma forma, serem seus porta-vozes no Sínodo a realizar em Roma.

Parece-me que esta é uma oportunidade rara e histórica para a Igreja. Desejo que esta possibilidade de escuta e de um maior conhecimento das realidades tão plurais da Igreja não seja desperdiçada.

No que diz respeito aos homossexuais, o relatório contém um curto capítulo, a que dá o nome de “Acolher as pessoas homossexuais”. O número 50 é efectivamente inesperado – nele encontramos alguns aspectos nunca antes referidos em nenhum documento oficial da Igreja. Perante a afirmação “As pessoas homossexuais têm dotes e qualidades para oferecer à comunidade cristã”, coloca-se a questão: “Somos capazes de acolher estas pessoas, garantindo-lhes um espaço de fraternidade nas nossas comunidades?” O documento continua: “Muitas vezes elas desejam encontrar uma Igreja que seja casa acolhedora. As nossas comunidades são capazes de o ser, aceitando e avaliando a sua orientação sexual, sem comprometer a doutrina católica acerca de família e matrimónio?”

É realmente espantoso ver esta nova abordagem que fala em aceitar a orientação sexual. Acredito que a vontade do Papa Francisco seria em não haver tantos “Mas”e “Ses”, no entanto, temo que haja ainda demasiados bispos ordenados por João Paulo II ou por Bento XVI que não irão na mesma linha de pensamento. O meu receio prende-se a pequenos aspectos que teimam em aparecer no texto, como se fossem almas penadas: o que se entende por “avaliar a sua orientação sexual” e o que quer dizer exactamente “sem comprometer a doutrina católica acerca de família e matrimónio”?

O número seguinte começa por outra afirmação surpreendente: “A questão homossexual interpela-nos a uma séria reflexão acerca do modo como elaborar caminhos realistas de crescimento afectivo e de maturidade humana e evangélica, integrando a dimensão sexual: apresenta-se portanto como um desafio educativo importante”. E tão surpreendente é esta parte do parágrafo, quanto o contraste absoluto com o que vem depois: “No entanto, a Igreja afirma que as uniões entre pessoas do mesmo sexo não podem ser equiparadas ao matrimónio entre homem e mulher.” Fica-me a questão: porque houve a necessidade de voltar ao velho discurso, qual criança caprichosa que já não sabe porque teima?

Igualmente incompreensível é a sequência de ideias que se segue, que parece não ter qualquer cabimento na lógica do discurso e que, de tão abstracta, não é inteligívelqualquer ligação com o mundo real: “Nem sequer é aceitável que se queiram exercer pressões sobre a atitude dos pastores ou que organismos internacionais condicionem ajudas financeiras para a introdução de normativas inspiradas na ideologia do gender.” Será que é uma tentativa de denúncia do lobby-gay no Vaticano? Mas, se for este o caso, o ataque teria de se dirigir ao ambiente propício à homofobia, à misoginia e à omissão de qualquer acompanhamento sério psicológico (não digo espiritual) vigente em muitos dos seminários diocesanos.

O último ponto volta a começar por um tom mais positivo: “Sem negar as problemáticas morais ligadas às uniões homossexuais, tomamos consciência de que há casos nos quais o apoio recíproco até ao sacrifício constitui um apoio precioso para a vida dos parceiros.” E continua: “Além disso, a Igreja dedica atenção especial às crianças que vivem com casais do mesmo sexo, reafirmando que devem ser sempre postas em primeiro lugar as exigências e os direitos dos filhos.” E é aqui que volta a minha desconfiança: é verdade que a Igreja não soube, durante muito tempo, o que fazer com essas crianças cujos pais “viviam em pecado”. Assim, por um lado, nota-se aqui uma directiva que promove a integração das crianças na comunidade paroquial.

Mas necessitam estas crianças de uma atenção “especial”? Parece-me que deviam receber a mesma atenção (chamemos-lhe especial) que qualquer ser humano tem o direito de receber. E qualquer filho tem o direito de viver com os seus pais, mães, pai e/ou mãe sem que outros lhe andem a chatear o juízo... E, já agora, só faltava manipular e interferir nas exigências dos filhos? (que exigências???)

 

Podes ler na íntegra o relatório em português aqui

 

Artigo de opinião de Rui Aleixo, publicado originalmente no blogue Moradas de Deus